POLÍTICA
Futuro governo olha pelo retrovisor e se depara com diagnósticos negativos

Foto Divulgação
Como deve acontecer em toda a transição de governo, o período serve para fazer diagnósticos, para, a partir disso, apontar soluções. Até aí, nada de novo...A novidade é buscar a consultoria de pessoas de fora do município para auxiliar neste processo, como fez o prefeito eleito João Pedro Azevedo no caso da secretaria da Saúde. Somente um olhar apurado de especialista pode ir além do óbvio... Diante dos problemas no atendimento, por exemplo, o óbvio seria apontar para a necessidade de contratar mais gente. Pois o que foi revelado pela especialista em Estratégia de Saúde da Família e ex-diretora da Atenção Primária das Políticas de Saúde do Governo do Estado, Tatiana Bernardes é que não faltam funcionários nem estrutura, o que falta é gestão...
Falhas
Não se trata de apenas olhar pelo retrovisor no sentido de desgastar a atual gestão, mas as falhas apontadas pelo diagnóstico técnico, apesar de serem primárias, são graves. Segundo a enfermeira, por conta de falta de protocolos, Carazinho vinha deixando de receber recursos de programas do Governo Federal, como por exemplo, o Previne Brasil, que desconta dos municípios que não atingem metas pré-estabelecidas no monitoramento dos pacientes. E isso falando de apenas um programa, onde o município vinha perdendo recursos pela simples falta de registros... Talvez isso explique muita coisa...
Perfil técnico
O nome de Tatiana Bernardes foi uma indicação da companheira do prefeito eleito, Paula Santos, que trabalhou junto ao COREN – Conselho Regional de Enfermagem -, onde, na época, também conheceu a ex-secretária de Saúde, Anelise Almeida. Na coletiva com a imprensa, quando questionados se Tatiana pode vir a assumir a secretaria de Saúde, Paula confirmou que o convite foi feito, mas Tatiana ainda não aceitou em função dos compromissos na capital do Estado. Paula, - que está tendo um papel de destaque na transição -, aproveitou para reforçar mais uma vez que todos estão cientes que a escolha do secretariado priorizará o perfil técnico e não político. Resta saber o que os partidos aliados acham disso...
A propósito I: caso a nova gestão opte por trazer nomes de fora do município para ocupar secretarias, estará repetindo o que fez o governador Eduardo Leite que chamou Raquel Teixeira, natural de Goiânia, para assumir a secretaria estadual de Educação.
Eletrocar I
Talvez a nova gestão tenha que se valer de mais especialistas de fora para dar conta de alguns problemas complexos que vem se revelando neste período de transição...Um exemplo é a Eletrocar, cuja recuperação financeira é apontada como um dos cases de sucesso da atual administração, mas que ao mesmo tempo, não consegue solucionar um problema crônico dos empresários do Distrito Industrial, que ainda sofrem prejuízos em função da falta frequente de energia. Na última segunda-feira, aconteceu mais uma vez, quando queimou o transformador, não havia outro para substituir e se não fosse a linha de transmissão que parte da subestação da Eletrosul em Tapera, talvez até hoje o Distrito estivesse em apagão... É inadmissível que empresas do porte das instaladas no Distrito enfrentem essa vulnerabilidade para poder trabalhar...
Eletrocar II
...Não resta dúvida que possuir uma empresa própria, com um valor atrativo de energia elétrica, aumenta a competitividade do município para atrair novos empreendimentos, mas dificilmente um empresário irá investir onde não houver segurança na qualidade e constância desta energia...Ao contrário, o que pode acontecer é quem já está instalado, cansar e transferir o local da empresa para outro município, como já vem sendo cogitado por alguns empresários...A gestão da “coisa pública” exige mais do que resultados no “azul”...Exige coragem...
Investimento x Endividamento
Mais do que a substituição de transformadores, o Distrito Industrial carece de um projeto arrojado de fornecimento de energia. Segundo fontes desta coluna, o projeto já existe, porém, como exige um investimento que pode chegar a R$50 milhões, foi colocado em “stand by”...O “dilema de Sofia” da próxima administração será: investir em infraestrutura no local e, consequentemente, arriscar o equilíbrio financeiro da empresa, ou em nome de manter a boa saúde financeira, ir empurrando com a barriga...Ou seja, não investir em melhorias para não ser acusada de causar o endividamento da empresa...
Pisando em ovos
E nesse dilema, há mais um agravante...É que em função do precedente envolvendo a gestão da empresa no último governo do PSDB, a Eletrocar será observada com lupa pela sociedade civil organizada na próxima gestão...Mesmo que João Pedro repita que não tem nada a ver com o que se sucedeu no governo Alexandre Goellner, além dos laços familiares, o partido é o mesmo, e apesar da gravidade do caso, a sigla não tomou nenhuma medida e nem mesmo se posicionou oficialmente na época... Portanto, a relação – e o temor – são inevitáveis...Tudo o que se refere à nova gestão da Eletrocar terá que ser pensado e decidido com muito cuidado pelo prefeito eleito...O cuidado de quem está pisando em ovos...
Cargos
Sobre as especulações quanto aos nomes da nova gestão, as negociações implicam, principalmente, sobre o tamanho que cada partido terá no governo, o que, por tabela, quer dizer número de cargos. O União Brasil, por exemplo, que foi determinante para vitaminar o tempo de propaganda eleitoral da coligação, pode ficar pelo menos com duas secretarias e um departamento, já que tem nomes que estiveram na linha de frente da campanha, como Anselmo Britzke, Rudi Brombilla e Aylton Magalhães...
União Brasil
...Anselmo Britzke vem sendo cotado para Obras e Rudi vem acompanhando de perto a transição junto à secretaria de Planejamento. Já Aylton não pode assumir cargo público em função de pendências judiciais, mas pode ser contemplado com a nomeação de Cleonice Magalhães para o novo departamento de Turismo e Cultura que deve ser criado junto à secretaria de Governo. O partido está à frente do ministério do Turismo do governo Lula, o que pode abrir portas...Por outro lado, por não ter conseguido eleger nenhum vereador, o União Brasil pode perder pontos na negociação...
A propósito II: a comitiva que irá acompanhar o prefeito João Pedro e a vice Valeska Walber na viagem a Brasília na próxima semana pode ser um spoiller da composição do novo governo...
Retira ou não retira...
A expectativa do final de semana fica por conta da retirada ou não do projeto que prevê uma suplementação de crédito de R$1 milhão no orçamento para a secretaria de Obras. Depois da declaração do presidente da Casa, vereador Vanderlei Lopes (MDB), de que o recurso serviria para cumprir promessas de campanha, o projeto sofreu dois Pedidos de Vista e ainda uma manifestação pública do Observatório Social do Brasil-Carazinho, que se posicionou contrário à aprovação. Segundo o documento, enviado também ao Ministério Público, “aprovar um projeto sem uma justificativa técnica clara e com o intuído de cumprir promessas de campanha é inconcebível”.
Queda de braço
... A questão é que o projeto se transformou em uma queda de braço entre Situação e Oposição, uma espécie de segundo turno das eleições em Carazinho, como citado na última coluna... Se for retirado, a vitória política é da oposição, que certamente capitalizará ao máximo. Se for mantido, o Executivo estará “batendo de frente” com uma entidade respeitada em todo o país por lutar pela transparência. Porém, o pior dos cenários é a Situação manter o projeto e perder no voto, o que é bastante provável...
A propósito III: o “pacote de bondades” de fim de governo também deve ser frustrado pelo parecer inviável do Jurídico da Câmara ao projeto do Executivo que visava o pagamento de parcela adicional em 2024 do Vale-Alimentação e Auxílio-Alimentação aos funcionários e estagiários da Prefeitura. Segundo o parecer, a conduta é vedada em ano eleitoral, no período de julho até a posse dos eleitos.
Data: 01/11/2024 - 07:54
Colunista: Nadja HartmannFonte: Nadja Hartmann