POLÍTICA

Projeto prevê reajuste salarial de até 30% para prefeito, vice e secretários de Carazinho

Seja quem for que daqui a exatos 30 dias, os 46.944 eleitores carazinhenses escolherem para comandar o município nos próximos quatro anos, já devem iniciar no “novo emprego”, dia 1º de janeiro de 2025, com um bônus considerável...Tramita na Câmara de Vereadores um projeto da Mesa Diretora que prevê reajustes nos salários de prefeito, vice e secretários a partir do próximo ano. Vale lembrar que apesar de não ser um emprego CLT, todos recebem uma espécie de 13º salário, oportunamente “apelidado” de gratificação natalina. Já os vereadores da atual legislatura que iniciaram com um salário de R$5.953,00 há quatro anos, hoje, com os reajustes baseados na inflação do período, encerram a legislatura com um salário de R$ 7.211,00. Confira na tabela abaixo, a evolução nos valores dos subsídios, caso o projeto seja aprovado pela Câmara.

Mixaria (?)

Apesar dos salários não poderem ser considerados exatamente baixos, - ainda mais comparados com a média salarial dos carazinhenses, que é de 2,5 salários mínimos, segundo o IBGE, - a cada nova gestão, repete-se a “chorumela” sobre a dificuldade de contratar quadros técnicos qualificados para compor o governo em função dos salários oferecidos, que seriam muito abaixo da iniciativa privada...Até pode ser, mas por outro lado vamos combinar que uma renda de quase R$150mil por ano, mesmo com os descontos, não é nem de perto uma “mixaria”...

Equipe

... Ou seja, o salário não pode servir para justificar a opção por quadros políticos nas secretarias, que acabam virando redutos de “amigos do rei” e uma extensão do comitê da campanha...Aliás, não seria nada ruim se os candidatos à Prefeito já revelassem durante a campanha quem eles pretendem nomear nos principais cargos de primeiro escalão, inclusive, na administração indireta, como a presidência da Eletrocar...Afinal, ao votar, o eleitor está escolhendo um projeto de governo que será desenvolvido por uma equipe e não apenas por uma pessoa. Fica a sugestão...

Precedente

Os percentuais de reajustes previstos no projeto de lei devem ter agradado o funcionalismo municipal, que irá para o dissídio em janeiro com uma margem de negociação bem mais ampla do que apenas o IPCA do período, ou seriam dois pesos e duas medidas? Infelizmente, porém, qualquer índice fica diretamente atrelado ao limite estabelecido pela legislação, que, aliás, é preocupante...Para 2025, a previsão de despesa com pessoal e encargos é de R$ 210 milhões, acima do limite legal que é de R$206 milhões. Enquanto em 2020, Carazinho gastava R$77 milhões com despesas de pessoal, equivalendo a um índice de 35,83% do orçamento, em 2023, o valor passou para R$141 milhões, ou 44,79%, lembrando que o grande vilão deste aumento exponencial é o chamado crescimento vegetativo da folha...Mesmo assim, ainda tem candidatos prometendo aumentar o número de professores nas escolas e profissionais nas unidades de saúde. Falta apresentarem a equação de como pretendem fazer isso sem cair no limite estabelecido pela lei...

Palavrão

... Por essas e outras que a sociedade civil organizada vem chamando a atenção para a necessidade urgente de uma reforma administrativa, o que não significa necessariamente perda de direitos do funcionalismo – essenciais para o bom andamento da máquina pública -, mas uma otimização dos recursos humanos e quem sabe até mesmo uma redução nos cargos comissionados, que hoje chegam perto dos 100...A reforma administrativa chegou a ser prometida pelo prefeito Milton Schmitz, que por motivos não sabidos, acabou recuando...Deve ser pelos mesmos motivos que na presente campanha eleitoral, nenhum candidato fala disso. Virou quase “palavrão”...

A propósito: a necessidade de uma reforma administrativa urgente deve ser um dos itens da Carta assinada pela ACIC e demais entidades de classe que a partir da próxima segunda-feira começará a ser entregue aos candidatos, durante o evento Ideias na Mesa. Nas próximas quatro segundas-feiras, a diretoria da entidade irá sabatinar as majoritárias, iniciando por Luis Alberto Godinho (PT-PCdoB-PV), após Renato Suss (PL), seguido de João Pedro Azevedo (PSDB-Republicanos) e Daniel Webber (PP-MDB).

E o futuro?

Passados mais de três semanas do início da campanha eleitoral e uma semana dos programas eleitorais, as propostas apresentadas pelas majoritárias pecam pela falta de assertividade, ou seja, apresentam soluções sem deixar claro como pretendem fazer, em que prazo e, especialmente, com que dinheiro... Enquanto alguns miram no passado (recente ou remoto), outros tentam apagar o passado, esquecendo que o que interessa para o eleitor é o futuro que inicia em janeiro de 2025...

Pergunta de milhões

...Um futuro, aliás, que já possui uma LDO aprovada com previsão orçamentária de R$450 milhões, sendo R$223 milhões já “carimbados” para Saúde e Educação. Portanto, um orçamento que provavelmente não irá caber nas fantasias dos candidatos, até porque ao receber as chaves da prefeitura, o próximo prefeito irá receber um orçamento fechado, que mesmo com créditos suplementares, possui pouca margem para malabarismos. A pergunta de milhões que tem que ser respondida é “como fazer” e não apenas “o que fazer”...

Orçamento 2025

Chama atenção, por exemplo, as propostas de candidatos prometendo uma verdadeira revolução nas áreas de cultura e turismo no município, com criação de novos espaços, construção da Casa de Cultura, revitalização de parques, realização de eventos, etc, etc...Porém, certamente eles terão muita dificuldade de cumprir as promessas, pelo menos no primeiro ano de governo, já que o valor previsto para a área na LDO de 2025 é de R$2,8 milhões, quase a metade do investimento destinado no orçamento deste ano, que foi de pouco mais de R$4milhões. Outra área que deverá perder um grande aporte de recursos em 2025 é a agricultura. Enquanto a LDO deste ano, destinou R$1,3 milhão para a secretaria de Agricultura, para o ano que vem, estão previstos menos de R$350 mil. Já para a nova secretaria de Esportes, estão previstos R$3,6milhões...Outro dado, no mínimo, intrigante e preocupante, é que apesar de toda a catástrofe ambiental enfrentada pelo Estado este ano, o valor previsto em 2025 para o programa denominado de Qualidade Ambiental é exatamente o mesmo deste ano, R$4,3milhões...

Legado disputado

Nesta reta final, a campanha que se mostra movimentada nas redes, mas ainda tímida nas ruas da cidade, deve se intensificar, já que a maioria dos candidatos optou por reservar o fôlego (e os recursos) para os últimos dias. O final de semana que coincide com o feriado de 7 de setembro deve ser de grande movimentação, com carreatas e bandeiraços...Aliás, a data que acabou sendo monopolizada pela direita no Brasil deve ser disputada pelos dois candidatos que competem pelo legado Bolsonaro em Carazinho: Daniel Weber, do PP e Renato Suss, do PL...

Alinhamento

Mesmo que alguns insistam em repetir a tese que eleição municipal não é nacionalizada ou dividida entre esquerda e direita, em Carazinho nós temos um cenário que se revela com uma direita-raiz, representada pelo PL, uma direita-light, representada pelo PP, o centro, representado pelo PSDB e a esquerda, representada pelo PT... Ideologiza quem quiser, mas não podemos esquecer que após eleitos, o alinhamento de bandeiras com o governo federal e estadual é fator importante para a vinda de recursos e investimentos.

Recursos

De todos os partidos que compõem as majoritárias, o que aportou maior volume de recursos na campanha em Carazinho até agora foi o Republicanos. A direção nacional do partido repassou R$250 mil para a campanha de João Pedro Azevedo, que tem a sua vice, Valeska Walber, filiada à sigla. Quem também recebeu recursos do partido foi Luis Alberto Godinho, pouco mais de R$11 mil, da direção estadual do PT. Porém, o registro das candidaturas de Godinho e de Renato Suss ainda aguardam julgamento no site do TSE.

Contradição

Ainda falando sobre partidos e ideologias, é incrível que uma coligação que possui um candidato à prefeito fortemente identificado com a direita e que em seu discurso defenda os valores da família “tradicional”, a moral e os bons costumes, permita comportamentos que beiram à indecência por parte de certos candidatos ao legislativo nas redes sociais. Uma coisa é liberdade de expressão, outra, bem diferente, é liberdade de “aberração”...Será que em nome de likes e engajamento, realmente vale tudo? “Podemos” tudo? Os partidos são responsáveis sim por quem avalizam para os representarem na eleição. A campanha eleitoral não pode se transformar em um circo repleto de palhaços com performances de mau gosto, para dizer o mínimo...