ESPORTES

Jorginho 13 reforça o Brasil de Carazinho no futsal de veteranos

Foto Mara Steffens/O Correspondente

 

A Copa Papagaio Charão de Futsal tem uma atração a mais a partir das semifinais, que estão sendo disputadas nesta sexta-feira (9), no Ginásio da Fundescar. Jorginho 13, ex-atleta profissional é o reforço do Brasil, do Bairro Oriental, na categoria veterano, e que participa do torneio. Ele chegou ao clube através do amigo Thiaguinho, que também joga no time.

Na tarde desta sexta-feira, Jorginho recebeu a reportagem de O Correspondente, na sede do Brasil. Com membros da diretoria e atletas, ele torceu pela Seleção Brasileira na Copa do Mundo. E se decepcionou, já que ocorreu a eliminação para a Croácia. "Acho que a gente estava 'capenga' de lateral esquerdo. Acho também que o Tite vacilou em tirar o melhor da Copa (Vini Jr). Craque em que ficar. O Danilo estava sentindo um pouco. Mas foi um jogo difícil. Já joguei mundial e sei como é. Mata-mata é outro campeonato. Não gostei do Brasil hoje. Não foi agudo como foi em outros jogos. Raphinha também deixou a deixar. Até hoje estava achando que o Brasil era favoritaço", avaliou.

Na época de ouro da Sercesa, Jorginho jogou em Carazinho contra a Vermelha e Branca em várias oportunidades, especialmente com a Enxuta. "Aqui sempre era muito complicado jogar. O pessoal é bastante fanático, amam futsal. Lembro do ginásio sempre lotado e de um episódio engraçado. Estávamos ganhando o jogo e eu fui cobrar um lateral rapidamente. A torcida ficava muito perto da rede e quando me abaixei um torcedor me deu um pontapé. Fui parar no meio da quadra. Faz parte do jogo. A Sercesa sempre teve times muito competitivos", recordou, aproveitando para parabenizar a equipe carazinhense pelas campanhas destacadas nos estaduais. É finalista da Série Prata e semifinalista da Copa RS. "Quero parabenizar a Sercesa pelo retorno, por voltar em alto nível, chegado nas finais", salientou.

Em 1992, Jorginho 13 foi eleito o melhor do mundo pela FIFA. "Eu acho que é a maior premiação que um jogador pode receber. Sou oriundo das favelas do Rio de Janeiro e iniciei jogando em um projeto social. Com 9 anos disputei meu primeiro campeonato. Você sonha e as coisas começam a acontecer. Teve uma época em que larguei tudo, inclusive namorada, para me dedicar ao futsal. Sabia que poderia mudar a minha vida e a da minha família através do esporte. Me tornei profissional. Sai do Rio, fui pro São Paulo, depois vim pro sul. Posso dizer que minha é dividida em antes e depois do Rio Grande do Sul. Eu tinha 19 anos quando fui convocado para a seleção brasileira pela primeira vez, depois de ser campeão brasileiro. Quando cheguei no mundial com o Brasil, eu olhei para traz. Lembrei de onde eu vim. Naquele momento percebi que estava defendendo o meu país. Joguei demais aquele campeonato. Chegamos super preparados, tanto que ganhamos todos os prêmios individuais", enumerou.

Quando parou de jogar profissionalmente, Jorginho 13 se deu conta da importância do que conquistou. "Ajudei duas gerações da minha família, meus pais e meus irmãos e depois meus filhos. Um deles é empresário e outro goleiro de futsal, joga no Lagoa Futsal. Pude dar todo conforto a eles. Hoje eu usufruo disso. Eu vivo exclusivamente do futsal até hoje. Este ano está sendo muito especial para mim: 30 anos que ganhei a bola de ouro, 37 anos de vivência no Rio Grande do Sul, 44 anos de quadra. É muita coisa. Posso bater no peito e dizer que como atleta sou realizado e como pai de família também", argumentou.

 

Projeto social

Grato por ter sido apresentado ao futsal quando criança, num projeto social carioca, Jorginho 13 faz o mesmo com crianças carentes em Parobé, onde mora. "Sempre tive em mente em fazer algo para as crianças. Um dia eu estava na igreja, lá em Minas, quando eu jogava no Atlético-MG, e o pastor falou o seguinte: 'se você tem títulos, prêmios, não deixa isso guardado, criando teia de aranha. Se você conquistou é porque Deus te deu um bom. Passe para a frente'. E eu decidi que faria isso. Já são 10 anos do Projeto Social Jorginho 13 Cidadão Sem Diferença", conta o ex-atleta. O projeto funciona dentro da escolinha privada que ele possui. Atende crianças de várias faixas etárias, muitos deles com deficiência e em situação de vulnerabilidade social.

Um dos bons exemplos do trabalho social é a história de um garoto que tinha problemas de relacionamento. Agredia colegas do time e fez com que muitas crianças não quisessem mais participar da escolinha. Jorginho 13 tentou de todas as formas orientá-lo, sem sucesso, até que um dia resolveu apresentá-lo a um amigo que era instrutor de artes marciais. O ex-jogador acreditou que o menino talvez não gostasse da modalidade, mas no primeiro treino o professor já observou que se tratava de um lutador. Atualmente com 15 anos já ganhou várias competições. "Hoje ele fala comigo me chamando de senhor. É patrocinado por uma academia de São Paulo. Eu acredito que em breve ele estará em evidência. É o exemplo de como o esporte pode fazer a diferença na vida das pessoas", exemplificou.

 

Futsal nas olimpíadas

A cada ciclo olímpico, novas modalidades esportivas são acrescentadas, mas o futsal, amplamente difundido e um dos esportes mais praticados do mundo ainda não entrou na lista. Jorginho 13 tem uma hipótese. "É política. Escalada indoor?? (questiona ele sobre uma das modalidades que já são olímpicas). o Futsal é o esporte mais praticado do mundo! Quando cheguei na seleção, aos 19 anos, disseram que na próxima olimpíada o futsal entraria como apresentação, para na seguinte estar em definitivo. O Morruga que já era mais velho, já tinha 12 anos de seleção, me disse que ouviu a mesma história e que eu não deveria acreditar. Eu mais novo resolvi ficar na minha e realmente foi o aconteceu. Até hoje não é esporte olímpico. Não acredito que um dia possa acontecer. Para mim é política", justificou.

 

Jogando fora do país

Todo jogador sonha em jogar na Europa. Com Jorginho 13 não foi diferente. "Joguei em países que são o extremo do nosso, como Arábia Saudita e Rússia. Foi bastante difícil. Sofri bastante. Aguentei no 'osso'. Pensei em voltar, mas a grana era muito grande. O que ganhava lá em um ano levaria cinco para ganhar no Brasil. Na Rússia fazia 10 meses de inverno, 20 graus abaixo de zero. Lá eu tinha intérprete, mas na Arábia Saudita não. E não falavam inglês. Passei um ano lá e somente no último mês eu conheci um maitre do restaurante do hotel que era espanhol. Eu tinha jogado na Espanha. Eu estava num hotel cinco estrelas, com tudo de ouro, mas eu não falava com ninguém. Foi bastante difícil me adaptar, mas aguentei. Vários colegas não aguentaram", contou.

 

Gols marcantes

Questionados sobre os gols mais bonitos que anotou na carreira, o ex-atleta enumerou: "o primeiro gol da final do mundial. Fiz uma tabela com Manoel Tobias. Eu sabia que ele batia bem na bola. Rolei para ele e já fui pra área pedindo a Deus que o goleiro rebatesse. Ele rebateu e eu marquei. O segundo, no Mundialito em Copacabana, Brasil e Austrália. Dei dois balõezinhos nos australianos de 1,80m, dentro da área. Eu estava cercado por quatro deles, e dei de voleio. E outro no Muindialito no Paraguai. Peguei a bola no meio da quadra, com um elástico invertido, dei uma balançada, a bola fugiu um pouquinho, e joguei de caneta. Acho que foram os mais bonitos", finaliza.

Data: 09/12/2022 - 21:15

Fonte: Mara Steffens

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