GERAL
Painel sobre violência contra a mulher marca o Agosto Lilás em Carazinho
Fotos Mara Steffens/O Correspondente
A Câmara de Vereadores de Carazinho realizou na tarde desta quarta-feira (30), o Painel “Mulheres Livres de Violência: Essa Pauta Nos Une”, numa alusão ao Agosto Liliás, mês de prevenção à violência doméstica. Para debater o assunto, além da presidente do Legislativo, Janete Ross de Oliveira e a vice-prefeita Valéska Walber, foram convidadas a delegada de Polícia, Heládia Cazarotto, a advogada Josiane Petry Faria, a psicóloga Flávia Gai Soares e a master coach business, Vania Stoco Tomé.
Alunos das EMEF's Políbio do Vale e Pedro Pasqualotto, além do Grupo Instrumental da Fuccar, marcaram presença e fizeram apresentações artísticas.
A primeira a falar foi a coordenadora do Centro de Referência de Atendimento à Mulher – CRAM, Daniane Diehl, criado há pouco mais de dois meses, para atender mulheres vítimas, mas também atua na prevenção.
Josiane Petry Faria, psicóloga e professora universitária, falou em seguida. Ela enalteceu a criação do CRAM e destacou a Lei Maria da Penha menciona o centro como a inovação mais importante, pois se constitui como a ferramenta que traça a estratégia adequada para cada situação, de cada mulher envolvida em algum cenário de violência. “Demonstra que Carazinho não está mais escondendo a situação e que reconhece a importância disso e de se trabalhar esta temática”, colocou. Enquanto coordenadora do Projur Mulher e Diversidade, da UPF, mantido há 19 anos, ela mencionou que desde aquela época o tema já é tratado e o CRAM deve ser o centro de radiação da rede de proteção à mulher. “A denúncia é importante, mas precisa ser preparada. A mulher deve se sentir e realmente esteja protegida, conhecendo o ambiente que ela vive e o que é preciso fazer para que prioritariamente ela esteja protegida”, colocou.
Flávia Gai Soares observou que é necessário identificar os primeiros sinais, pois a violência psicológica é a ponta de entrada para as demais e que ela acontece em todos os ambientes. Mostrando uma espécie de medidor da violência, a psicóloga informou que ofensas, agressões verbais, humilhações e desprezo sãos as primeiras situações pelas quais a mulher passa. “Este é o alerta que ela precisa reconhecer e passar a tomar cuidado. Aí temos a morte subjetiva, a morte da autoestima, da autoconfiança, alcançando níveis de depressão, e em alguns até o suicídio”, citou.
Heladia Cazarotto relatou sobre a criação, em outubro do ano passado, a Delegacia de Polícia de Proteção a Grupos Vulneráveis – DPPGV. Ela apresentou dados relativos aos casos. Somente em 2023, foram 490 ocorrências de violência contra a mulher, média de duas por dia. Dos registros, 60% (296) das vítimas quiseram processar o agressor. Vale lembrar que dependendo da natureza do fato, como a lesão corporal por exemplo, a mulher não tem a opção de não seguir com o processo. Trezentas e trinta pediram medida protetiva. “Entre os crimes mais registrados, a ameaça é o mais recorrente: 35% dos casos. Depois vem lesão corporal, 18%, descumprimento de medida protetiva, 15%. E estes geralmente são os casos que levam a prisão preventiva. Tivemos ainda duas tentativas de feminicídio”, informou.
Sobre o feminicídio, a delegada de Polícia citou dados estaduais. No primeiro semestre de 2023, foram 40 casos. “82,5% delas não tinham medida protetiva de urgência. 57% nunca havia registrado um boletim de ocorrência. 85% dos agressores já tinham antecedentes. Isso nos leva a pensar que precisamos de uma alternativa para este homem também. 72,5% aconteceram dentro da casa em que ela mora. Trinta e duas das 40 mulheres mortas, eram mães”, contou.
Heladia mencionou ainda a Sala das Margaridas para que as vítimas sejam melhor acolhidas no momento do boletim de ocorrência e os servidores estão sendo treinados para atender casos relacionados a violência doméstica. Ela espera que em breve, a DPPGV possa passar a registrar ocorrências, o que não é possível neste momento por causa da falta de pessoal.
Empoderamento
Vania Stoco Tomé, diretora da Febracis Escola de Negócios do Rio Grande do Sul, abordou o empoderamento feminino. Observou que a violência pode estar associada às vivências das crianças que aqueles que vivem neste ambiente, em que há agressão entre os pais, estão propícios a serem adultos violentos. “Tudo está ligado às emoções. São as experiências que trazem os resultados que vivem agora. Muitas vezes, a mulher deixa um agressor e em seguida se une a outro. O homem deixa de agredir uma e encontra outra vítima. Porque existe um comportamento que está na identidade deste ser humano”, pontuou.
A psicóloga e vice-prefeita Valéska Walber comentou que as mulheres enfrentam desafios diários e se elas ainda são minoria em alguns espaços, como na política, é porque a sociedade ainda precisa ser cuidadosa em relação a isso. “Tenho sentido a duras penas o quanto a violência se faz presente e como elas se atingem, de forma sutil, ou nem tanto. Não é por acaso que ainda somos tão poucas. Precisamos, homens e mulheres, sermos mais apoiadores para que possamos estar mais representadas em todos os setores”, salientou.
A presidente do Legislativo, concordou que ninguém se torna agressor de um dia para o outro, por isso a educação tem papel importante, desde a família até a escola. “A violência sempre existiu, agora está em evidência porque está sendo debatida. E podem ter certeza que os dados ainda estão ocultos. Muitas mulheres ainda não conseguem chegar”, declarou.
Patrulha Maria da Penha
O Major Juliano Moura, comandante do 38º Batalhão de Polícia Militar sediado em Carazinho, destacou que a corporação se sente orgulhosa de fazer parte da rede de proteção às mulheres. Disse ainda que quando as mulheres começaram a ingressar como militares, a instituição mudou para melhor, tornando o trabalho mais comunitário e inteligente.
Ele deu detalhes sobre o trabalho da Patrulha Maria da Penha, instituída em Caazinho em 2020 e estas informações você poderá conferir em um conteúdo especifico que traremos em breve.