POLÍCIA

Carazinho registra média de 2,8 casos diários de violência contra mulher

Foto Divulgação

 

Criada para coibir e prevenir a violência contra a mulher, a Lei Nº 11.340, conhecida como Lei Maria da Penha está completando neste mês, 15 anos de vigência. Entre janeiro e julho, a Delegacia de Polícia de Proteção a Grupos Vulneráveis – DPPGV de Carazinho registrou 591 ocorrências de violência contra a mulher, uma média de 2,8 casos por dia. A delegada titular, Heladia Cazarotto, cita que ameaça, perseguição e violência psicológicas são os mais corriqueiros. “A violência contra mulher sempre existiu, mas elas não denunciavam. Agora com os recursos que são oferecidos muitas têm coragem de procurar a polícia”, salienta ela.

 

Sobre os casos de maior incidência, Heladia coloca que são as situações em que o homem impõe limites, não permite que a mulher faça determinadas coisas e que se ela burlar isso, sofrerá consequências, “O que se percebe é que muitas registram, retiram e voltam a registrar, ou seja, elas têm dificuldade de sair do ciclo. Têm esperança de que a situação melhore. Em muitos casos a presença do álcool é a tônica. Elas até citam, ‘mas ele é um bom pai, um bom marido, só fica violento quando bebe’. Então elas recebem a promessa de que eles vão deixar a bebida, alguns até deixam por um tempo, mas depois começa tudo de novo”, contextualiza. Do total de registros feitos, em apenas 264 casos as mulheres quisera seguir com o processo. Em muitos, a medida protetiva foi eficiente. 

 

O recém-criado centro de Referência de Atendimento à Mulher – CRAM irá auxiliar neste contexto, de acordo com a delegada, na medida em que desafogará o CREAS que até então acumulava toda a demanda. Os registros seguem sendo realizados no plantão policial, passam para a DPPGV e depois serão encaminhados ao CRAM. O processo dará mais agilidade à resolução. O CREAS seguirá com as demandas relacionadas a crianças e adolescentes e idosos, além de oferecer todas as orientações necessárias à população.

 

Quando confrontados, os agressores geralmente alegam que a versão da vítima é mentirosa. Alguns até citam que ela registrou para se vingar de alguma situação de ciúmes. Em alguns casos isso até acontece, mas na maioria a agressão acaba comprovada. Heladia menciona que em um dos casos, a mulher foi ferida com faca, estava bem machucada e o agressor, na tentativa de ludibriar a polícia, provocou ferimentos em si mesmo e alegou que ela havia se machucado ao tentar feri-lo. No entanto, a perícia comprovou que os ferimentos dela eram compatíveis com uma agressão e que os dele foram autoprovocados.

 

A DPPGV foi instalada em Carazinho em outubro do ano passada. Até então, as questões relativas às mulheres estavam com a Delegacia de Polícia, com a delegada Rita de Carli, passaram para a nova delegacia que ainda acumula atendimento de crianças e adolescentes, grupos vulneráveis, atendendo os crimes de intolerância. Além de Heladia, a DPPGV possui apenas três servidores, um a menos que tinha quando era apenas relacionada a criança e adolescente (DPPCA).

 

Legislação é eficaz, mas a cultura precisa ser modificada

Na visão de Heladia Cazarotto, a Lei Maria da Penha é uma das mais eficazes que existe, mas a problemática de violência contra a mulher passa por questões mais profundas. “O que falta é tratar os homens. Ensinar desde criança que é preciso ter respeito, que a mulher tem seu espaço, conscientizar sobre o alcoolismo. É preciso desmistificar o machismo desde pequeno. A educação é o começo. É um processo longo e não adianta lei se a sociedade não abraçar a causa”, observa.

 

A delegada também considera importante ações que incentivem as mulheres a entrar no mercado de trabalho, pois ainda há situações em que ela é preterida por ser mulher. Ela cita inclusive um projeto que está em formatação e que pretende buscar empresas parcerias que abram vagas de emprego para vítimas de violência doméstica.

 

Outros aspectos que Heladia considera importantes são a oferta de vagas em escolas de educação infantil para que as mulheres possam deixar os filhos para trabalhar e assim ter autonomia e independência, afinal, muitas não conseguem se deixar os agressores por serem dependentes financeiramente deles.

 

Data: 14/08/2023 - 09:58

Fonte: Mara Steffens

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