POLÍTICA
Após apenas três meses de Legislatura, vereador pode ser julgado na Comissão de Ética da Câmara

Foto Divulgação
No mundo ideal não deveria ser necessária uma Comissão de Ética para que vereadores tivessem que julgar comportamentos de outros vereadores. No mundo ideal, ética não deveria ser um conceito relativo e todos deveriam saber o que é certo ou errado. Porém, no mundo real, uma Comissão de Ética não só é necessária, como teve que ser acionada passados apenas três meses do início da legislatura. O presidente da Câmara, vereador Bruno Berté (PDT), está pedindo a instauração de um processo ético disciplinar contra o vereador Cleomar Silva (PP), em função do vídeo publicado nas redes sociais onde ele aparece com nariz de palhaço, o que segundo Berté, constitui “ato atentatório” à sua honra pessoal e ao poder legislativo.
Liberdade de expressão (?)
Não se sabe ainda se a Comissão irá instaurar o processo ou não, e se instaurar, irá decidir por alguma penalidade ao vereador, que inclusive, faz parte da Comissão junto com outros quatro vereadores. Mas de qualquer forma, o episódio pode ser pedagógico no sentido de demonstrar – para quem ainda não sabe – que as redes sociais não são uma terra sem lei, onde vale tudo em nome de likes e engajamento. A política sozinha já comete seus graves delitos. Não precisa que políticos eleitos para honrar seus cargos venham criminaliza-la ou ridiculariza-la ainda mais...É por essas e outras que o índice de abstenção no país nas últimas eleições chegou perto de 30%...Vale sempre lembrar que liberdade de expressão é bem diferente do que liberdade de lacração...
A propósito I: até poderia se atribuir o ímpeto do vereador de colocar o nariz de palhaço no vídeo ao fato dele ser recém-chegado, não ter experiência em aspectos que envolvem o “decoro parlamentar” ou ainda por desconhecimento do Regimento Interno. Porém, tudo isso não se aplica ao vereador Cleomar, que durante muitos anos foi assessor do ex-vereador Daniel Weber e, inclusive, ocupou o cargo de Diretor de Expediente da Câmara na gestão do ex-vereador e ex-candidato à prefeito.
Crise de imagem
Apesar do prefeito João Pedro afirmar que a denúncia feita na Câmara sobre a existência de um “funcionário fantasma” na secretaria da Saúde seja “fake news” da oposição, não se pode negar que o fato se transformou na primeira crise de imagem enfrentada pela atual administração. Um desgaste que poderia ter sido menor se a gestão tivesse seguido a principal regra de manuais de crises de imagem, chamada de “Golden Hour” que prega a máxima agilidade na reação ou na resposta. Assim como a burocracia da máquina foi lenta para exonerar Gian Pedroso do cargo, a administração foi lenta para publicar o vídeo com os devidos esclarecimentos, e como diz o ditado “até provar que fucinho de porco não é tomada”, fica valendo a primeira versão... Resumo da ópera: pegou mal...
Agravantes
Se fosse qualquer pessoa nomeada para um cargo que, por algum motivo, não fosse trabalhar, já seria grave, mas este caso ainda possui agravantes, que é o fato de Gian ser presidente de um partido aliado, ser amigo pessoal do prefeito e ser cotado para assumir uma secretaria que deve ser criada nos próximos meses. Diante disso, é impossível descartar totalmente a narrativa de que o “amigo do rei” tenha sido nomeado como diretor da Saúde “só para ficar no banco” enquanto esperava a vaga de secretário da Cultura ser criada...Como disse, espera-se que seja só uma narrativa...
A propósito II: existe um outro ditado antigo que diz “que a mulher de César, não basta ser honesta, deve parecer honesta”. Ou seja, faltou transparência ao nomear e faltou transparência ao exonerar. Se tivesse sido assim, teria se evitado o escândalo...Espera-se que ao indicar o novo diretor de Contratos, o nome seja devidamente divulgado...
Soluções
Como se não bastasse a denúncia de funcionário fantasma e as reclamações de demora no atendimento na UPA, a secretaria de Saúde ainda se vê enfrentando outra crise, causada pelos casos de Chikungunya no município. Mas pelo menos nestes problemas, a gestão tem demonstrado agilidade. Para amenizar a demora no atendimento na UPA, já contratou outro médico para atendimento das 17h à meia-noite e deslocou uma unidade móvel como reforço. Não seria a solução ideal, já que o atendimento na UPA é terceirizado e a solução deveria ser cobrada do Hospital Mahatma Gandhi, cujo contrato assinado com o município em 2019, garante R$529.556 reais mensais para atender a população. Neste valor, não estão contabilizados os cerca de 50 aditivos assinados desde o início do contrato...
Culpa
Sobre a superlotação da UPA, infelizmente, mais uma vez, ouvimos se repetir o discurso que, em parte, a culpa pela demora no atendimento é da população: a de Carazinho, por não buscar as ESFs nos bairros – que, vale lembrar, não funcionam à noite e nos finais de semana – e de pacientes que se deslocam de outros municípios da região. Um problema que deveria ser previsto, já que o SUS é descentralizado e garante atendimento universal. Ou seja, todos os cidadãos têm direito de ser atendidos, independentemente do município onde residem. Aliás, isso sempre foi assim...
Negligência I
Beira ao absurdo a onda de casos de chikungunya registrada em Carazinho. É importante destacar que assim como a dengue, a chikungunya pode ser evitada. Porém, a prevenção não passa somente por ações individuais dos moradores, mas principalmente por ações coletivas de conscientização e fiscalização do poder público. Vale destacar também que para termos chegado a este número de casos, a negligência vem de muito tempo...
Negligência II
...Não se trata de olhar para trás e culpar o antigo governo, mas responsabilidades devem ser apontadas. Quantas ações de conscientização foram feitas em Carazinho no último ano? Como foi feito o trabalho de fiscalização? Como o atual governo recebeu a estrutura da Vigilância Sanitária? Os 22 agentes de combate às endemias são o suficiente para o município? Entende-se que a atual gestão deve mesmo se focar agora na operação de guerra de combate ao mosquito, mas tais perguntas não podem deixar de ser feitas...
Passividade
E a prestação de contas do Planeta Agro na sessão da Câmara se transformou em um festival de elogios sem fim...Muitos, sem dúvida, merecidos, mas o que se esperava é que os vereadores da oposição, que cobraram tanto por transparência, tivessem se preparado com o mínimo de questionamentos. Aliás, a passividade dos vereadores deve ter surpreendido até mesmo os integrantes do Executivo, Bruna Anacleto e Anderson Montai, que apresentaram os números. Ou seja, a iniciativa do Executivo de se adiantar na prestação de contas mostrou-se acertada. Só o que falta agora é vir algum Pedido de Informação sobre o evento...
A propósito III: o valor de R$ 907 mil investido no Planeta Agro chegou no mesmo valor suplementado para a cultura para todo o ano de 2025. Os 27 patrocínios totalizaram R$291mil, porém, apenas R$156mil em dinheiro e o restante em bens e serviços, sendo que esse valor será repassado para o Fundo Municipal de Cultura. O investimento, sem dúvida, foi alto. Porém, o retorno para o município é impossível dimensionar, até porque não vem apenas em números...
Data: 28/03/2025 - 07:49
Colunista: Nadja HartmannFonte: Nadja Hartmann