CULTURA
“Orí, com quantas histórias se faz um eu?” representa a luta antirracista em Carazinho
Fotos Mara Steffens/O Correspondente
Um livro que representa a luta contra o racismo. Uma obra que registra histórias de coragem e protagonismo, inclusive de pessoas bem conhecidas na comunidade carazinhense. “Orí, com quantas histórias se faz um eu?” é fruto do projeto de educação antirracista realizada na Escola Cônego João Batista Sorg, idealizado pela professora Bruna Anacleto e com a participação de 14 jovens escritores, estudantes do educandário.
O lançamento oficial, através da Editora Os Dez Melhores, ocorreu nesta quarta-feira (19), vésperas de uma importante data: o Dia da Consciência Negra. No salão nobre do Sorg, os autores autografaram as obras e homenagearam pessoas como os professores Alaor Thomaz, a vice-diretora Cinara Meyer, a socióloga Carmem Holanda, e a servidora Tia Iara. As histórias deles, estão na obra de 103 páginas. Estão junto de narrativas sobre Angela Davis, Dandara de Palmares, Seu Jorge, Marielle Franco e tantos outros. A iniciativa teve o apoio do vereador Bruno Berté (PDT).
O projeto nasceu em 2022. “Estou muito emocionada. Ainda não posso mensurar o tamanho deste projeto e de tudo que ele alcançou, mas tenho certeza de que tivemos muito impacto porque saímos da escola. Este livro vai chegar a outras crianças, outros adolescentes e fará o papel social que é trazer representatividade, a sensação de pertencimento”, resumiu a professora Bruna Anacleto, responsável pelo projeto e organizadora do livro.
A ideia é seguir com o projeto e, quem sabe, novas edições do livro poderão surgir. “Ainda tem muita história para contar, muita história que não entrou no livro e que precisam ser contadas e ouvidas. Temos novos alunos entrando, porque a maioria dos que participaram está se formando. O projeto não acaba com este livro”, mencionou.
A escritora e editora Jana Lauxen comentou. “Foi uma honra tornar um projeto como este, que já existia, em um livro. Sempre digo que a gente passa e o livro fica. Então pensar que daqui a 100 anos a gente não estará mais aqui, mas o livro estará e chegará às mãos de outras pessoas que irão se reconhecer nele é maravilhoso. Apensar de ser escritora, não encontro palavras para dizer da alegria que sinto”, pontuou, acrescentando que a obra é especial. “A luta antirracista pertence a todos nós. Às vezes pode-se acreditar que é dos negros, mas não, ela é principalmente de nós, brancos. Então poder colaborar e trazer histórias de carazinhenses fortalece esta luta. Uma sociedade racista, machista, transfóbica não tem como ser uma sociedade melhor. Ou ela é melhor para todo mundo, ou não é para ninguém”, completou.
A emoção de ser personagem de um livro
Valdir Leonardo Rodrigues, o Jamaica, elogiou a iniciativa. “É algo nobre e fazer parte é uma honra. Sinto que realmente, não somente na fala, mas na prática, nas ações de educação, estão tendo resultado. Estou muito feliz”, destacou. O professor disse também que o 20 de novembro serve de reflexão, e não deve ser somente uma data festiva. “Acredito que é momento de reflexão, mas não somente do povo preto, mas de toda sociedade brasileira, de realmente colocar em prática estas ações que são para o crescimento de toda civilização. Acho que é uma data é simbólica, mas a gente, que está sempre na resistência, o 20 de novembro acaba sendo os 365 dias do ano”, opinou.
Carmem Holanda, a Mãe Carmem, enalteceu a iniciativa dos jovens, preocupados com o futuro. “Isso não tem preço. É uma semente que ajudará a construir um mundo melhor. Estou muito lisonjeada, especialmente neste momento em que estamos celebrando pela primeira vez, internacionalmente, o 20 de novembro. Devemos ressaltar nossa cultura ancestral, nossa contribuição para o país e acima de tudo denunciar o preconceito e o racismo e todo tipo de discriminação”, salientou. “Consciência negra é desde que nascemos, mas precisamos de um dia para reflexão.
Igualmente feliz, estava a vice-diretora do Sorg, Cinara Meyer, a primeira negra a ocupar um cargo na direção da escola. “Nunca pensei que ficaria tão feliz porque vejo a evolução dos nossos alunos, desde que o projeto começou e quando eles me procuraram pedindo que eu contasse a minha história. Eu fiz uma viagem ao meu passado. Este projeto me possibilitou isso e fiquei muito gratificada”, resumiu.
Abaixo, na galeria de fotos, você confere mais registros deste momento.