SAÚDE

Diagnóstico na saúde de Carazinho aponta para necessidade de mudanças especialmente nos bairros

Foto Mara Steffens/O Correspondente

 

O prefeito eleito João Pedro Albuquerque de Azevedo compartilhou com a imprensa na tarde desta quarta-feira (30), na UPF - onde está a base da sua transição, informações colhidas na saúde carazinhense a partir da visita da enfermeira Tatiane Bernardes, que está na cidade a convite dele.

 

A profissional tem larga experiência em gestão pública da área, é especialista em Estratégia da Saúde da Família, ex-coordenadora do Coren e foi diretora da Atenção Primária no Governo do Estado. Nos últimos dias, Tatiane e Azevedo visitaram unidades de saúde dos bairros, conversaram com servidores da saúde e com usuários.

 

“Com o olhar técnico dela, conseguimos observar várias questões que necessitam de atenção, correções e modificações para garantir agilidade no atendimento, uma maior qualidade e uma maior resolutividade dos problemas, especialmente na ponta, nos postos de saúde, inclusive que poderão impactar em maior arrecadação de recursos pois hoje Carazinho perde por não cumprir com metas estabelecidas com o governo do Estado e com a União, recursos que poderiam ser investidos na saúde”, salientou o gestor, acrescentando que foi identificada a necessidade de adotar protocolos de atendimentos na rede.

 

Tatiane falou sobre o que viu na rede municipal de saúde de Carazinho. Disse que a parte de estruturas físicas está adequada, assim como o quadro de servidores e a cobertura da atenção primária, que chega a cerca de 82%. No entanto, segundo ela, é preciso melhorar a entrega para a comunidade. “Os postos de saúde devem ser muito mais resolutivos para diminuir que o paciente adoeça e tenha necessidade de especialidades. Outro diagnóstico que fizemos é em relação a parte da regulação. Verificamos que tem inúmeros pacientes que estão com pendências dentro do Gercon (sistema de gerenciamento de consultas), que falta alguma informação e que isso poderia ser resolvido pelos próprios médicos, dentro das unidades, com seus acessos ao Gercon, onde eles, semanalmente devem se comprometer a entrar no sistema, ver as solicitações, e realizar o que pede o regulador, este paciente iria andar na fila. Tem muitas pessoas que acham que estão aguardando na fila e não estão porque faltam informações. São protocolos de atendimento que precisamos padronizar entre todas as unidades de saúde”, especificou a enfermeira.

 

Em relação às agendas, Tatiane destacou ser necessário mudar a cultura existente de limitar o número de pacientes, atendendo mais, com mais qualidade e atingindo as metas preconizadas, atendendo melhor os usuários, levando segurança para o paciente e para o profissional. “A mudança precisa acontecer, precisamos começar a caminhar”, salientou ela.

 

O prefeito eleito citou também ajustes necessários quanto ao acesso dos usuários aos medicamentos. “Hoje todo tipo de medicação está disponível na Farmácia Municipal e que funciona somente em dia de semana. A gente tem que pensar na saúde de forma integral e entender que precisamos facilitar acesso aos medicamentos, ao tratamento nas unidades básicas, perto da casa do usuário, assim como na UPA, claro que exige um ajuste no contrato, mas é necessário. Até porque ali tem atendimento 24h e permitir que o usuário tenha acesso ao medicamento nos finais de semana, o que não acontece hoje. E isso atinge especialmente quem não tem dinheiro para comprar. Se a gente quer pensar em uma saúde que inclua todos, precisamos pensar nestes ajustes”, comentou.

 

Coordenadorias dentro do sistema municipal

Uma das sugestões levantadas por Tatiane Bernardes, e que funciona muito bem em outros municípios, é a divisão da cidade geograficamente em quatro regiões. Em cada uma delas atuaria um gerente distrital responsável pelas unidades básicas daquele território, monitorando e fazendo a comunicação entre a secretaria de saúde e as unidades. “É uma forma de estarmos mais próximos, observando de perto o que acontece. Hoje em dia é o secretário que faz isso. Assim teriam pessoas capazes de ver de perto todas as potencialidades e fragilidades, trazendo pra gestão e esta trazendo a solução”, explicou a enfermeira.

 

Recursos desperdiçados

De acordo com Tatiane, sobre recursos não acessados por falta de atendimento à metas estabelecidas, em 2023 Carazinho deixou de acessar cerca de R$ 58 mil do Programa de Incentivo à Atenção Primária do governo do Estado. “Falando assim parece não ser muito, mas é um recurso que poderia ser utilizado. Também teve descontos em relação ao programa Previne Brasil (do Ministério da Saúde que equilibra valores financeiros per capita referente a população cadastrada nas equipes de Saúde da Família). Este não sei mensurar neste momento, mas teve perdas e poderia ser usado de alguma forma”, detalhou.

 

Sobre este assunto, Azevedo acrescentou que os valores que deixaram de ser recebidos poderiam ajudar na contratação de profissionais, compra de materiais, e até capacitações de profissionais para determinadas ações que hoje precisam ser encaminhadas para especialistas, fazendo com que o Município pague mais caro. “A falta de cumprimento de metas significa que a saúde como um todo pode estar sendo prejudicada, quando você deixa de vacinar, quando não faz procedimentos preventivos... É preciso ajustar isso, não só pelo recurso que se perde, mas pela saúde que precisa ser feita, que é o principal”, apontou.

 

Cultura de distribuição de fichas

Azevedo voltou a abordar a questão da limitação de atendimento por fichas salientando que pretende informatizar a marcação de consultas para que o usuário possa fazer agendamento. “O que percebemos que no atual cenário, com as equipes existentes é possível ter atendimento integral sem que as pessoas precisem ir de madrugada. Mas é preciso ter mais atendimento nos postos. Hoje tem a disputa (por ficha) porque tem atendimento limitado na maioria dos postos e como não há protocolos gerais, cada posto faz de uma maneira, o que acaba tendo insegurança e nem todos conseguem ter acesso”, argumentou. “No momento em instituirmos um protocolo, fazendo com que cada médico consiga atender mais, talvez nem precise da ficha digital, embora queiramos garantir também esta alternativa, podendo eliminar estas filas da madrugada. É uma disputa desumana e sem sentido para ter acesso à saúde. As visitas que fizemos somente reforça que tem como garantir atendimento no posto de saúde sem precisar disputar”, completou.

 

Resistência

Questionado sobre a possibilidade de encontrar resistência pelas mudanças que devem iniciar já no início da gestão com ajustes nas pendências de pacientes dentro do sistema de gerenciamento de consultas e procedimentos, o próximo prefeito concordou que isso poderá acontecer. “Toda mudança gera questionamento e resistência, mas o fato é que se você pesquisar na comunidade, a saúde é um dos problemas. Fazendo estes levantamentos percebemos isso, até comparando com outros municípios, porque a Tatiane tem conhecimento dos mais diversos municípios gaúchos porque as informações passam por ela, lá no Estado. Ela diz com propriedade que pode ser diferente e podemos potencializar os atendimentos na atenção primário. Mas embora possa se ter dificuldade com alguns profissionais, também sabemos que quem quer trabalhar e se importa com a saúde do carazinhense vai entender que são mudanças importantes para entregar uma saúde melhor. É uma cultura que precisa ser ajustada”, sublinhou.  

 

Horário estendido

Aumentar o horário de atendimento em algumas unidades também está no planejamento, segundo João Pedro de Azevedo. “Antes de assumirmos vamos nos encontrar com a coordenadoria regional de saúde para fazermos a solicitação de mais equipes de atendimento dentro do Programa de Saúde da Família, para incluirmos em algumas unidades. A ideia é que iniciemos em duas unidades, para atender nas duas extremidades da cidade, nos bairros mais distantes da UPA e do HCC. Também discutimos a possibilidade de uma equipe perto da UPA para que fique bem caracterizado que atenção primária é uma coisa, média e alta complexidade é outra. Hoje há uma confusão que faz com que se procure a UPA e o hospital quando se deveria estar sendo buscar o posto de saúde e a resolução tenha que acontecer lá no bairro, no posto”, concluiu.

Data: 30/10/2024 - 16:56

Fonte: Mara Steffens

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