POLÍTICA
Resposta das urnas foi por mudança, mas Carazinho sai da eleição dividido
Foto Divulgação
Na última edição desta coluna antes das eleições, o título foi “o que será que as urnas irão dizer?”...Agora com a resposta, sabemos que as urnas disseram que querem mudança, representada, no caso, pelo prefeito eleito João Pedro Albuquerque Azevedo (PSDB). Se a mudança realmente irá representar um novo tempo, como prometido no slogan da campanha, só o tempo irá dizer...O certo é que mesmo que o atual prefeito Milton Schmitz (MDB) não fosse o candidato e que o MDB nem mesmo tenha indicado o seu sucessor, Daniel Weber, do PP, representava a continuidade, o que, aliás, foi insistentemente repetido durante a campanha. Porém, não podemos esquecer que Carazinho tradicionalmente não reelege prefeito, sendo que a eleição de 2020, quando Milton se reelegeu, foi uma exceção. Ou seja, a tradição sempre foi pela renovação no Executivo...Transformar a eleição de Daniel em uma espécie de nova reeleição pode ter sido uma aposta alta demais diante do histórico no município...
Divisão
Porém, as urnas disseram muito mais do que isso...A diferença por apenas 140 votos demonstrou que 16.247 eleitores carazinhenses gostariam de manter o atual modelo de gestão implementado na Prefeitura há oito anos. Ou seja, o desejo por mudança está longe de ser uma unanimidade, muito pelo contrário, e é diante deste cenário, com um município claramente dividido, que João Pedro e a vice, Valéska, irão assumir no dia 1º de janeiro...
Coincidência
Também na última edição desta coluna, questionei se a contagem de votos seria com ou sem emoção...Definitivamente foi com emoção em último grau, uma verdadeira prova de fogo para os corações dos candidatos, o que deve ter deixado muito cardiologista de plantão. Com o candidato Daniel Weber (PP) na frente até cerca de 20% das urnas contabilizadas, mesmo depois de João Pedro (PSDB) ter assumido a liderança, o resultado foi apertado até o último voto, com a diferença ora avançando e ora recuando. No final, por uma incrível coincidência, o candidato do PSDB venceu pela mesma diferença que o seu avô, Iron Albuquerque havia vencido há exatos 24 anos., na eleição municipal de 2000...Aliás, o nome de Iron foi citado várias vezes no discurso do prefeito eleito, e, inclusive, um pôster do ex-prefeito foi carregado até a Praça Albino Hillebrand, na festa da vitória...
A propósito: as coincidências familiares não param por ai...Os únicos dois ex-vereadores eleitos prefeitos na história política recente de Carazinho foram o tio do prefeito eleito, Alexandre Goellner em 2004, e agora, João Pedro. Eles também são os dois prefeitos mais jovens de Carazinho, com apenas um ano de diferença. Alexandre se elegeu com 36 e João Pedro, com 37.
Polarização
O que pode ter levado a este resultado tão apertado, que não se via há mais de duas décadas em Carazinho é um conjunto de fatores, que vão desde o fato da política no município estar claramente dividida e polarizada em dois grupos, passando também pelo acirramento em nível nacional entre direita e esquerda. Mesmo que nenhum dos dois candidatos pudesse ser considerado como tal, já que Daniel tinha um partido de centro-esquerda, o PSB, na coligação e João Pedro, a vice, de um partido de direita, o Republicanos, é difícil dimensionar até que ponto a polarização nacional influenciou os votos dos carazinhenses, fortalecendo o acirramento...
E se...
Sempre que se perde por muito pouco, como aconteceu neste domingo, é inevitável que venham muitos “e se”...E se o MDB tivesse indicado o nome à sucessão de Milton? E se o atual prefeito e a vice não tivessem rompido? E se o PP tivesse conseguido trazer o PL, de Renato Suss, que fez 1.583 votos? E se o PP tivesse insistido mais no voto útil da direita, garantindo assim pelo menos parte da votação do PL? E se a abstenção tivesse sido menor? E se, e se, e se...Na primeira manifestação à imprensa após o resultado, o candidato Daniel Weber chegou a dizer que se tivesse mais dois ou três dias, teria efetivamente virado, como chegou a ser divulgado em uma pesquisa, cujos números não se confirmaram. Ele também disse que, mesmo sem mandato, continuará trabalhando por Carazinho. Aliás, os seus mais de 16.200 votos o credenciam como uma forte liderança de direita no município, até porque 2026 é logo ali...
Acertos
Falando em liderança, não restam dúvidas que o resultado consolida Valeska Walber (Republicanos) como um dos nomes mais fortes da política carazinhense. Além de ter sido a primeira mulher eleita vice-prefeita em Carazinho, ela é a única vice-prefeita reeleita, demonstrando que a sua decisão de deixar o MDB, onde não recebia apoio, e se filiar ao Republicanos, concorrendo pela oposição e se afastando do cargo, foi um grande acerto, assim como João Pedro apostar em uma mulher e chama-la para ser a sua vice foi uma jogada de mestre...
Abstenção
Mais uma vez chama a atenção o índice de abstenção em Carazinho. Ao todo, 10.651 eleitores deixaram de votar, número quase semelhante à 2020, quando vivíamos uma pandemia. Somando os 662 votos nulos, que geralmente acontecem por erro na hora de registrar o voto e 1.438 votos brancos, tivemos apenas 34.193 votos válidos de um universo de 46.944 eleitores. Números que merecem uma profunda reflexão por parte dos partidos e lideranças políticas, um fenômeno, aliás, que se repetiu em todo o país, com uma média de abstenção de 21,7% em nível nacional.
Renovação, “pero no mucho”
Assim como no Executivo, no Legislativo, as urnas também demonstraram que querem mudanças. Dos 13 atuais vereadores, apenas seis se reelegeram, apesar que nem todos novos nomes representam exatamente uma novidade, exemplo de Erlei Vieira(PP) e Alaor(PDT), que na verdade, estão retornando à Câmara...Ou seja, nomes novos mesmo, são apenas cinco...Porém, dos três candidatos mais votados, dois são novatos: Vini Kunrath(PSB) e Bere(PSDB), que fizeram quase o mesmo número de votos do vereador mais votado, Bruno Berté (PDT). Como sempre acontece, o quociente eleitoral e partidário mais uma vez fez suas vítimas, já que candidatos que fizeram mais de 800 votos, como De Loreno(PSB) ficaram na suplência, enquanto candidatos com menos de 600 votos se elegeram...
Quem ganhou e quem perdeu
Quanto às bancadas, ficaram divididas em seis partidos, sendo o PSDB, com quatro cadeiras; o PP, com três; o PDT o PSB e o MDB, com duas. Passando a régua, o partido que mais perdeu foi o MDB, que fez metade das cadeiras que havia conquistado em 2020, demonstrando mais uma vez o preço alto que a sigla pagou por ter aberto mão de indicar o candidato à prefeito. Prova disso é que o PP conquistou três cadeiras...Sem dúvida, uma derrota política para o MDB, do deputado Márcio Biolchi...Por outro lado, a composição da nova legislatura não favorece o prefeito eleito, já que a Oposição elegeu sete vereadores, um a mais que a Situação...
Tradição
Mantendo a tradição, mais uma vez, não teremos duas mulheres atuando na mesma legislatura em Carazinho A única vereadora eleita foi a Bere, do PSDB, com 1.318 votos. Ao todo, das 108 candidaturas, 34 eram de mulheres, que, inclusive, foram beneficiadas com a legislação com mais recursos do fundo partidário. Ou a legislação por aqui não fez efeito ou mais uma vez, os partidos apostaram em mulheres com candidaturas laranja, o que pode explicar o fato de grande parte das candidaturas de mulheres terem feito menos de 50 votos...Já outros municípios da 15ª Zona Eleitoral, como Chapada, Coqueiros do Sul e Almirante Tamandaré elegeram três vereadoras. Aliás, em Tamandaré, a prefeita eleita também é mulher, Dilse, do PSDB. Outro município da região que elegeu uma mulher como prefeita, foi Marau, com Naura Bordignon, do MDB.
Data: 07/10/2024 - 07:22
Colunista: Nadja HartmannFonte: Nadja Hartmann