POLÍTICA
O que será que as urnas irão dizer??
No próximo domingo, 46.944 eleitores devem comparecer às urnas para escolher o próximo prefeito, vice e vereadores de Carazinho para os próximos quatro anos. Foram mais de 40 dias de campanha, inúmeros programas eleitorais, debates e entrevistas transmitidas, ou seja, não será por falta de informação que o eleitor deixará de fazer a sua escolha crítica e consciente. Também pode ter aquele eleitor que simplesmente abra mão de escolher, votando em branco ou não comparecendo às urnas. Em 2020, 10.885 eleitores deixaram de votar, registrando a abstenção mais alta da história, 23,09%, índice em grande parte atribuído à pandemia. Mesmo assim, os partidos e candidatos parecem não estar preocupados em estimular o eleitor a votar, já que não vimos nenhuma campanha específica sobre o tema... Não podemos esquecer que o índice de abstenção pode ser determinante para o resultado de uma eleição...Além disso, como já disse Platão, “o castigo dos bons que não fazem política é serem governados pelos maus.”
Com emoção ou sem emoção??
Se tudo der certo, provavelmente antes das 19h de domingo, os carazinhenses já saberão, mesmo que extra oficialmente, quem será o novo prefeito. Nestas pouco mais de 48 horas que restam, a pergunta que paira no ar não é apenas “quem será” mas também “com quantos votos irá se eleger”, ou seja, se a contagem dos votos para a majoritária será com emoção ou sem emoção. Mesmo que para ser considerado eleito, baste fazer apenas um voto a mais, há uma grande expectativa quanto a distância entre o primeiro e o segundo colocado. Expectativa, aliás, que só deve aumentar com as pesquisas que serão divulgadas entre hoje e amanhã...
Vale a pena ver de novo
Verdade que cada eleição é uma eleição, mas partindo do retrospecto das últimas cinco eleições municipais, mesmo que o pleito em Carazinho seja sempre considerado acirrado, a diferença entre o primeiro e o segundo colocado nunca foi de menos de 2.500 votos, chegando até o recorde de mais de 14mil votos na eleição de 2016. Aliás, o resultado mais embolado nas disputas recentes foi em 2008, quando Aylton Magalhães (PP) venceu com 14.889 votos, mas a diferença entre o segundo colocado, Adair Bonaldi Flores (PSDB) e o terceiro colocado, Adroaldo De Carli (MDB), foi de 157 votos. Inclusive, esta foi a última eleição que PP e PSDB disputaram diretamente na cabeça de chapa...Enquanto aguardamos o resultado de domingo, vale a pena ver de novo os números dos primeiros colocados nos pleitos anteriores:
Temas I
O vendaval e a chuva que danificaram cerca de 300 casas em Carazinho faltando poucos dias para as eleições deveria ter trazido literalmente à tona um tema que infelizmente ficou em segundo plano nos programas de governo dos candidatos no município, que são as ações do poder público voltadas para as questões ambientais e mudanças climáticas. Como podemos ver na noite da última quarta-feira (01), mesmo que Carazinho não tenha sido castigado pelas enchentes de maio, não estamos imunes, e o tema deveria sim ser uma das prioridades de quem pretende comandar o município. Porém, os temas que vimos centralizar os debates da campanha foram os mesmos de sempre como o atendimento na área da saúde e geração de empregos ou até mesmo pontuais, como o estacionamento rotativo.
Temas II
Nos últimos dias, em função das falhas de abastecimento, entrou em pauta também a Corsan, muito também como uma estratégia de colar o problema ao governo Eduardo Leite e consequentemente ao candidato do PSDB, João Pedro. Inclusive havia um receio de protestos durante a vinda do governador a Carazinho na última sexta-feira. Felizmente a turma do “deixa disso” entrou em ação, até porque ele veio assinar um convênio de R$5milhões com o HCC...Portanto, seria no mínimo deselegante...Vale lembrar que em julho, a Câmara aprovou a abertura de uma CPI da Corsan, a fim de investigar supostas irregularidades de cobranças excessivas nas faturas. Os trabalhos deveriam ter sido concluídos em 60 dias, porém o prazo foi prorrogado...
A propósito: estrategicamente o candidato Daniel Weber (PP) não defendeu a proposta de municipalização da Corsan durante a sabatina do Ideias na Mesa, da ACIC, até porque sabe-se da resistência dos empresários a qualquer proposta de estatização. Porém, o candidato defendeu a criação de uma holding, unindo a Eletrocar, a Corsan e ainda a gestão do lixo.
Unanimidades
Seja quem for escolhido para comandar o município, a população já pode contar com no mínimo quatro soluções imediatas: a revitalização do Parque da Cidade; a revisão ou rescisão do contrato com a Estacione; o fim das filas na Saúde e a realização de um concurso público. Entre tantas promessas, estas foram citadas por todos os candidatos... Outro ponto que foi unanimidade entre eles, foi a posição “em cima do muro” quanto à necessidade de uma reforma administrativa, além da absoluta falta de propostas para a dívida de R$580 milhões do município junto ao Previ. Como se não falar do problema fizesse ele desaparecer. Muito pelo contrário, esse é um problema grave que só aumenta, e que algum gestor vai ter que ter a coragem de encarar...
Carreatas
Com o fim da propaganda eleitoral no rádio e tv, as últimas 48 horas que antecedem à eleição serão dedicadas ao corpo a corpo com os eleitores. Para este sábado, estão marcadas duas grandes carreatas de encerramento da campanha, dos candidatos Daniel Weber(PP) e do candidato João Pedro (PSDB). Previstas para acontecer no mesmo horário, havia um grande temor da Justiça Eleitoral no sentido de evitar confrontos e garantir efetivo da Brigada Militar para garantir a segurança. Por isso, elas só foram liberadas diante do compromisso das coordenações de seguir itinerários diferentes e não se encontrarem em nenhuma esquina da cidade...Melhor assim...
“Panfletos” digitais
As últimas horas da campanha também deve ser de muita movimentação nas redes sociais. Com a Justiça de olho nas “fake news” nas redes abertas e oficiais dos candidatos, a “baixaria” ficou mais limitada aos grupos de watsapp, onde os ataques correm soltos...Felizmente, as listas de transmissão e compartilhamentos são limitados, mas é impossível não lembrar de tempos remotos quando a cidade amanhecia inundada de panfletos difamatórios de um ou outro candidato. Mudou o canal, mas não só isso, mudou também o eleitor, que repudia ataques e calúnias...
Equação complicada
Se o resultado da majoritária já deve ser conhecido nas primeiras horas da noite de domingo, os 13 futuros vereadores deverão ter que esperar um pouco mais para poder comemorar. É que o cálculo é um pouco mais complicado... Aliás, por mais que se tente explicar, a tal da equação que calcula o quociente eleitoral e partidário continua a ser um mistério para os eleitores, muitas vezes inconformados pelo fato do seu candidato fazer mais votos que outros e mesmo assim não se eleger. Em 2020, por exemplo, candidatos com pouco mais de 600 votos se elegeram, enquanto um candidato com mais de 750 votos ficou na suplência. A explicação é que para os legislativos vale o sistema proporcional, “inventado” para fortalecer os partidos políticos. De acordo com esse sistema, um candidato para se eleger precisa ter votação equivalente a pelo menos 10% do quociente eleitoral; e estar dentro das vagas a que o seu partido ou federação terá direito.
Divisão
Em 2020, o quociente eleitoral, - calculado com base nos votos válidos dividido pelo número de vagas -, foi de 2.788 votos em Carazinho, o que quer dizer que cada vez que um partido conquistou uma nova soma deste valor, garantiu mais uma vaga, desde que o candidato tivesse feito ao menos 278 votos, o equivalente a 10% do quociente. Parece simples, mas não é, até porque a equação ainda leva em conta as sobras, que é uma espécie de repescagem...Juntando tudo isso e passando a régua, a divisão das 13 cadeiras na Câmara em 2020 ficou entre seis partidos: quatro do MDB, três do PSDB, duas do PSB, duas do PP, uma do PRTB e uma do PDT, sendo que o vereador mais votado fez 1.200 votos e o menos votado, fez 636 votos. Chama atenção que os dois partidos com cabeça de chapa na majoritária garantiram o maior número de vereadores. Será que o MDB vai conseguir manter o desempenho nestas eleições?
Renovação
Seguindo o retrospecto, chama a atenção que dos três vereadores que fizeram o maior número de votos nas últimas eleições, dois eram “marinheiros de primeira viagem”: Alécio Sella, do PP e Adriano Strack, do PRTB. Aliás, os novatos levaram oito das 13 cadeiras. Neste ano, pelo menos três novos nomes já estão garantidos, já que Alécio Sella (PP), Daniel Weber (PP) e Dini Costa (MDB) não estão concorrendo à reeleição... Apesar que a composição final do legislativo não depende apenas do voto dos eleitores. Basta lembrar que Tenente Costa (MDB) e Estevão de Loreno (PSB) assumiram secretarias e foram substituídos por suplentes...
Mulheres
Outra expectativa quanto a eleição da nova legislatura recaI sobre o número de mulheres eleitas. Das 108 candidaturas que disputam uma cadeira, 34 são de mulheres. Porém, apesar das mulheres representarem 54% do eleitorado, Carazinho não possui um histórico de representatividade feminina na Câmara. De 1935, ano da primeira legislatura, até hoje, apenas oito mulheres foram eleitas e a última vez que tivemos duas mulheres atuando na mesma legislatura foi em 1983...
Pressão
Passada a eleição, seja quem for o eleito, não irá escapar da pressão no loteamento de secretarias e cargos. Hoje, a administração possui 11 secretarias, sendo que uma, a de Esportes, foi criada neste governo. Cada secretário recebe R$11.522,00. Mas é claro que no lote, há outros cargos atraentes, como diretores e coordenadores, com salários de R$5mil a R$8mil...Ou seja, espaço não deve faltar para acomodar tanta gente, até porque a exceção do PL e PT, que concorrem sozinhos, as outras duas coligações são formadas por quatro a cinco partidos. A boa notícia é que todos candidatos garantiram que o critério será técnico. Ufa...
Festa da Cidadania
Para encerrar a última coluna antes das eleições, que realmente o próximo domingo seja um dia de festa para a cidadania. O momento do voto representa a democracia na sua essência, quando o povo efetivamente está exercendo o seu poder soberano de decidir sobre o seu futuro, não esquecendo que a campanha até pode ter um preço – basta ver a prestação de contas dos candidatos -, mas o voto não se vende e não se compra, nem com dinheiro e nem com promessas vazias. Lembre-se que tanto o prefeito como os vereadores não podem tudo, e se dizem que podem, estão mentindo...Caso se sinta assediado ou testemunhe algum assédio, denuncie! O papel de fiscalização não é somente do MP Eleitoral, mas de todo o cidadão. Um bom voto a todos e viva a democracia!
Data: 04/10/2024 - 08:10
Colunista: Nadja Hartmann