POLÍTICA

Campanha eleitoral em Carazinho é marcada por BOs diários e dezenas de ações judiciais

 

Na semana que uma cadeirada virou o centro das atenções no país e que um debate entre candidatos se transformou em um ringue, abro a coluna chamando a atenção para o risco de banalizarmos o absurdo, a violência e até mesmo o bizarro na política... Nesse sentido, também não pode ser normalizado o fato da campanha em Carazinho já ter gerado dezenas de BOs e ações judiciais. Verdade que diante de suspeitas de irregularidades, a polícia e a justiça devem ser acionadas. O problema é quando os departamentos jurídicos das campanhas são mais atuantes do que a equipe responsável em pensar em propostas e planos de governo ou quando em um debate é necessário colocar um segurança dentro do estúdio, como aconteceu nesta quinta-feira durante o debate entre os candidatos em uma emissora de Não-Me-Toque...Isso não combina com democracia...

 

Pressões

Entre os BOs e ações registradas, enquanto alguns envolvem a propaganda eleitoral, outros se referem a acusações de injúria e difamação, porém, outros ainda, mais graves, envolvem ameaças. Uma delas, segundo fontes internas do PL, tiveram como alvo o ex-presidente Jair Bolsonaro durante a sua visita a Carazinho. Ainda segundo fontes do partido, por muito pouco, o ex-presidente não cancelou a sua vinda ao município, em função de fortes pressões de lideranças regionais do PP ligadas ao agronegócio, que atuaram diretamente para que o candidato do PL, Renato Suss, não recebesse o apoio direto de Bolsonaro. Foi preciso a interferência direta do presidente do PL no RS, deputado Giovani Cherini para que o ex-presidente subisse no palanque...A tentativa de boicote só acirrou ainda mais a disputa entre o PP e o PL no município, que, aliás, já virou caso de polícia...

A propósito I: vale elogiar a celeridade com que o MP e a Justiça Eleitoral de Carazinho vem dedicando às ações impetradas pelos partidos, o que garante a segurança jurídica, e, por tabela, o exercício pleno da democracia nas eleições.

 

Mensagem e mensageiro           

Outro fato que movimentou o cenário político eleitoral nos últimos dias, além dos debates e a vinda de Bolsonaro, foi a pesquisa divulgada pelo portal O Correspondente no último sábado. Como já havia citado na edição passada desta coluna, os resultados de pesquisas sempre são controversos, porque são negados e desqualificados por uns e comemorados por outros. Isso é assim desde sempre e não seria diferente agora... Outra velha estratégia é quando não se concorda com a mensagem, tentar desqualificar o mensageiro...Faz parte, assim como faz parte divulgar outra pesquisa contrariando a anterior. Nenhuma surpresa...

 

Termômetro

... Porém, sempre vale reforçar que pesquisa é uma foto do momento, que, com dados coletados metodologicamente e tabulados por uma empresa séria que possua um histórico respeitado na área, serve como um termômetro daquele período determinado. Sabe-se que dependendo dos resultados, pode resultar em desmotivação para os cabos eleitorais da campanha, o que explica o esforço pela negação e desqualificação dos números. Por outro lado, os resultados também podem gerar um estrago até mesmo para quem aparece na frente, provocando o fatal “salto alto”, que já derrubou muito candidato “vitorioso” em Carazinho...Portanto, resultado de pesquisa não deve ser apenas negado, deslegitimado ou comemorado, mas utilizado tão somente como termômetro e instrumento pelas coordenações de campanha...

 

Números

Quanto aos números revelados pela pesquisa da Index, de Porto Alegre, chama atenção a diferença significativa entre os candidatos, com a majoritária João Pedro-Valeska apresentando um índice superior aos outros três candidatos somados. Na espontânea, por exemplo, enquanto os candidatos do PSDB e Republicanos apareceram com 50,3%, os demais somaram juntos 29,4%, um índice, que, se confirmado, será bem diferente do registrado em 2020, quando o que separou o prefeito eleito, Milton Schmitz (MDB) do segundo colocado, João Pedro (PSDB) foi uma porcentagem de pouco mais de 10%, o equivalente a cerca de 4.000 votos. Outro dado que chamou a atenção na espontânea foi o registro de votos ao prefeito Milton Schmitz, que não é candidato... Isso, provavelmente em função da onipresença dele nos programas eleitorais do candidato Daniel Weber (PP).

 

 

A propósito II: diante da onipresença do prefeito Milton Schmitz na campanha, fala-se que ele já está trabalhando visando a sua candidatura à deputado federal em 2026, já que o deputado Márcio Biolchi deve abrir mão de disputar a reeleição pelo MDB...

 

Indecisos e flutuantes

... Cabe observar também que no período da coleta de dados, o candidato do PL, Renato Suss ainda não havia conseguido garantir a transferência de votos do ex-presidente Bolsonaro à sua candidatura. Resta saber se após ele estar no palanque ao lado do ex-presidente, isso pode ter mudado, o que, aliás, deve ser revelado na próxima pesquisa que será divulgada entre domingo e segunda-feira, encomendada pelo PP à uma empresa do município de Vale Real...Outro dado interessante na pesquisa Index, de Porto Alegre: enquanto levantamentos em todo o país revelam ainda um índice alto de indecisos, a pesquisa Index apontou um índice de apenas 2,8% de indecisos, porém, 31,5% disseram que ainda podem mudar de opinião, e é a esses eleitores que os candidatos que aparecem em desvantagem devem mirar a partir de agora...

 

Rejeição

Ainda em relação à pesquisa, um dos dados mais observados e valorizados por coordenadores e marketeiros de campanha é o índice de rejeição dos candidatos, que muitas vezes, é mais importante até mesmo do que o índice de preferência. Neste item, os dados da pesquisa apontam uma rejeição maior do ex-prefeito Renato Suss (PL), com mais de 22%, com Daniel Weber (PP) logo atrás, com 19%, seguido à distância por João Pedro (PSDB) com 11,5% e Godinho (PT), com 8,8%.

 

Atraso

Falando sobre o que interessa que são as propostas, é incrível que o centro dos debates entre os candidatos de Carazinho ainda esteja focado em temas que se repetem em todas as campanhas, o que a um eleitor desavisado, pode parecer que Carazinho parou no tempo...Em tempos de revolução na pirâmide etária brasileira, onde os municípios gaúchos aparecem com o maior número de idosos do Brasil, nenhum plano de governo dedicou uma atenção especial à criação de políticas públicas municipais voltadas a esta população, que necessita bem mais do que grupos de Terceira Idade...Em tempos que cidades primam por menos carros e mais pedestres e ciclistas, menos asfalto e mais espaços verdes de lazer, o debate em Carazinho está centrado na melhor forma de cobrar o estacionamento rotativo pago. Em tempos que a intolerância religiosa virou crime, se discute as crenças de cada candidato... Quanto atraso no debate público! Carazinho merece mais!