POLÍCIA

Delegada Heladia Cazarotto apresenta dados preocupantes da violência doméstica

Delegada Heladia Cazarotto na Tribuna do Legislativo (Foto Mara Steffens/O Correspondente)

 

A última sessão do mês, no Legislativo de Carazinho, sempre é marcada pela Tribuna Livre, quando pessoas da comunidade e representantes de vários segmentos podem falar sobre assuntos pertinentes. Ontem (27) quem ocupou o espaço foi a Delegada Heladia Cazarotto, a convite do vereador Alcindo Quadros. Ela esteve acompanhada por dois agentes civis e uma estagiária.

Titular da Delegacia de Polícia de Proteção aos Grupos Vulneráveis – DPPGV, Heladia falou sobre a violência doméstica em Carazinho, apresentando números preocupantes. De 1º de outubro de 2022 até ontem (27), foram 389 ocorrências de violência doméstica, apenas em Carazinho. "E aqui a gente engloba todo tipo de violência contra mulher: psicológica, moral, sexual, física, patrimonial...", citou.

Destacando que a DPGV é resultado da transformação da DPPA para que mais pessoas possam ser atendidas, incluindo mulheres, idosos e grupos minoritários, a delegada pontuou que o número de servidores diminuiu, embora o público atendido por ela tenha aumentado. "Nosso número de serviço aumentou muito. Contávamos com o ingressos de novos agentes porque está em formação uma turma de 240 alunos e a 28ª região policial (que envolve toda região), receberá apenas três. Destes, dois vão para Constantina e uma para Carazinho, lotado na Delegacia de Polícia. Então não vamos receber", afirmou, acrescentando que basicamente uma servidora atende a demanda relacionada às mulheres enquanto os outros dois precisam dar conta das demais demandas, envolvendo crianças e adolescentes e idosos. "É um número pequeno de policiais para um grande número de crimes que acontecem. Se formos contar, são mais de duas ocorrências por dia envolvendo a violência doméstica, desde que a DPGV foi criada. São ocorrências que precisam de resposta rápida. Nós cumprimos, no mínimo, um mandado de busca por semana, onde o agressor ameaça a vítima com arma de fogo. Toda semana chega um mandado de prisão para a gente cumprir, porque o agressor não respeita a medida protetiva que foi determinada. E não importa quão rápido os órgãos de segurança pública trabalhem, este número não para de crescer", exemplificou.

Para Heladia, a Lei Maria da Penha é uma das legislações que mais conferem direitos e proteção Às mulheres, no entanto, os números de crimes não cessam. Neste sentido, a prevenção é importante. "Este número que me refiro são dos casos registrados. Muitas não procuram a delegacia. Qual o problema? Onde está o erro disso tudo? Talvez a solução esteja na prevenção e na educação. A delegacia especializada é para dar acolhimento a esta vítima e hoje com o efetivo que temos, não conseguimos realizar. Como podemos, enquanto sociedade melhorar isso? É um problema de todos nós. Hoje pode ser tua vizinha, mas amanhã pode ser tua filha. Vamos ficar de braços cruzados? Temos que trabalhar de forma preventiva", colocou.

 

Inserção no mercado de trabalho

Heladia Cazarotto comentando também sobre o projeto que a Polícia Civil realiza em parceria com a Defensoria Pública de inserção da mulher, de forma facilitada, a mulher que foi vítima de violência. "Muitas não sabem deste ciclo (de agressões) porque dependem financeiramente dos homens. E o ciclo é sempre o mesmo: elas sofrem, registram ocorrência, perdoam, volta, é agredida novamente. Temos que dar meios para ela sair dali, seja através de um emprego, seja uma vaga na creche para que ela possa trabalhar. Não adianta conseguir o emprego e não ter com quem deixar a criança. Muitas não tem essa rede de apoio", mencionou.

 

Trabalhar com os homens

A delegada destacou ainda que é preciso tratar os homens para que a violência deixe de existir. "Não são raros os casos em que ela chega na delegacia e diz "ele é um bom pai, um bom marido. Ele só é ruim quando bebe. Não adianta tirar essa mulher de casa se o homem continuar no ciclo de vícios e agressões, talvez não com esta, mas com outra. É preciso tratar o homem e descontruir a ideia de que ele não faz terapia. Muitas vezes precisa. Muitas vezes precisa de um projeto para que este homem entre num processo de reabilitação", apontou.

Por fim, ela observou que a sociedade precisa se conscientizar e parar de julgar quem sofre violência. "Não foi só uma ou duas vezes que eu ouvi na delegacia que 'esta mulher gosta de apanhar'. Que mulher que gosta de apanhar? Nenhuma. O que acontece é que a gente não consegue se coloca no lugar dela, não consegue ter empatia, e esquece que só o dono da casa sabe onde estão as goteira. Precisamos entender que essa mulher não sai do relacionamento abusivo porque ela entende que isso irá destruir a família", argumentou. "Proponho a vocês uma reflexão, que pensemos em formas de inserir estar mulheres em ambientes sadios, de conseguirmos ser uma rede de apoio para elas, projetos de reabilitação de homens. A polícia civil é parceria, mas precisamos agir como comunidade para que no futuro possamos diminuir este problema", completou. 

Data: 28/03/2023 - 08:13

Fonte: Mara Steffens

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