POLÍCIA

Estado envia dois agentes para ajudar nos inquéritos dos homicídios em Carazinho

Sede da 28ª DPRI, em Carazinho (Foto Mara Steffens/O Correspondente)

 

O delegado Jader Ribeiro Duarte recebeu O Correspondente ontem (30), na sede da 28ª Delegacia de Polícia Regional, em Carazinho, da qual é delegado titular, para falar sobre a segurança pública e a recente onda de criminalidade na cidade. Segundo ele, Carazinho receberá o reforço temporário de dois agentes da polícia civil, vindos da região policial de Santo Ângelo. "Vivemos um momento difícil, de crise em relação aos homicídio, com um um número atípico. São quatro e um latrocínio, o que assustou a todos nós e nos fez pedir reforço em Porto Alegre, que nos respondeu positivamente sinalizando com dois agentes, mesmo com a limitação de pessoal", colocou ele, relatando que eles devem estar chegando nas próximas horas, visto que a parte burocrática para a designação deles já está pronta.

A principal missão dos policial que chegam é contribuir para os inquéritos dos homicídios recentes. "Este trabalho está ocupando praticamente todo nosso efetivo. As razões, na íntegra, não sabemos ainda, mas estão sendo esclarecidos. As prisões estão sendo representadas, inclusive hoje (ontem) um suspeito foi preso, outros dois foram identificados com a ajuda de testemunha ocular, do primeiro do ano, em fevereiro. As demais investigações estão bem encaminhadas, com investigações bem feitas pela DRACO de Carazinho e teremos em todos eles a resposta adequada com a polícia", disse o delegado regional.

Ainda conforme Duarte, além de elucidar os crimes, a polícia está preocupada em garantir que ocorrências desta natureza não se repitam mais. "A DRACO veio para Carazinho para cumprir um papel que até então as demais delegacia não dava conta, por causa do pouco efetivo, que é chegar até as lideranças, quem coordena, quem manda, quem determina estas mortes. A polícia tem êxito na identificação dos executores, mas os autores intelectuais, os que decidem quem vai morrer, isto não era feito. A DRACO busca isso, comprovar ao Judiciário que determinados indivíduos sãos os responsáveis por esta onda de crimes que sempre ocorrem, como ocorreu há um tempo atrás, quando em um ano tivemos 30 mortes. Não queremos que elas se repitam", reiterou.

 

Estelionatários aproveitam a onda

Com a população acuada pela violência, os estelionatários também aproveitam para agir. "Eles entram em contato ameaçando as pessoas com frases como 'eu sei que você ajuda a polícia'. Todo mundo tem dados pessoais em tudo que é lugar então é fácil para eles acessar estas informações e utilizá-las nos golpes. Mencionam ser membros de determinada facção, fazendo com que as vítimas paguem valores. Muitos ainda caem nisso", coloca.

 

O primeiro homicídio de fevereiro

O suspeito preso ontem e o outro que acabou morto em confronto com a Brigada Militar no fim da tarde, conforme Duarte, são indicados como autores da morte de um homem identificado como Júlio Cesar dos Santos que chegou ferido ao HCC, alegando que teria caído em um buraco. A Polícia Civil investigou o caso e descobriu que foi agredido. A dupla também é suspeita por outro crime da mesma natureza.

Ligação entre as mortes

Para o delegado regional, pelo menos três das mortes recentes podem ter relação com o crime organizado, envolvendo dívidas de drogas e vingança. Sem dar muitos detalhes para não atrapalhar as investigações, Duarte comentou que os fatos podem ter sido determinados por um comando maior, de uma facção de forte atuação na cidade. "No momento em que nós os alcançamos, do ponto de vista jurídico, e eles perderem todos os benefícios legais, isso vai diminuir", reiterou.

Sobre o fato de que as mortes ocorreram em um curto intervalo, Duarte não acredita que haja um fator que explique, mas ele opina que alguns discursos e até políticas, na concepção dele, promovem a "glamurização do crime, minorando a prática, afirmando que quem mata por uma bicicleta ou um celular para tomar cerveja não é crime". "Aí vemos projetos tentando liberar a droga no país, trazendo benefícios para líderes de facções, trazendo de volta a visita íntima nos presídios de segurança máxima, enfim. Eu lamento muito. Em última análise, isso pode estimular os criminosos fazendo com que eles pensem que tem força política e que eles estão acima da lei, fazendo a leitura de que, em tese, estão protegidos", citou.

 

Importância da DRACO

Jader Ribeiro Duarte destacou que a DRACO tem mostrado sua importância, e do quanto ela era necessária para o município, desde que foi inaugurada, permitindo que a polícia tivesse mais efetivo e concentrasse esforços no combate ao crime organizado. Além disso, o delegado regional frisou que a comunidade precisa contribuir com o trabalho fazendo denúncias anônimas que possam ajudar a elucidar fatos. Muitas vezes, com medo de represálias, as pessoas possuem informações importantes, mas não as fornecem. "Temos muito dificuldade com a consciência coletiva das comunidades. Chama atenção aqui em Carazinho e sempre faço esse chamamento. Mas é muito difícil, as pessoas pensam apenas em si. As pessoas não se envolvem. Na semana passada, um indivíduo cometeu cinco roubos em sequência no comércio e tivemos que convencer as vítimas a registrar a ocorrência. Alegam que conhecem o autor, e por isso não desejam representar, ou que não querem se envolver, mas depois são as primeiras a irem para as redes sociais reclamarem da segurança e o mínimo que precisam fazer é registrar a ocorrência para que possamos agir e não fazem", queixou-se.

A ajuda da comunidade também foi reiterada pelo delegado titular da DRACO, Leandro Antunes, durante coletiva de imprensa concedida por ele, o delegado regional, e o Major Juliano Moura, por ocasião da morte de um suspeito, em confronto com a polícia, no bairro Fehy. Ele citou que a comunidade precisar estar do lado da polícia, ajudando a elucidar os crimes. Antunes colocou como exemplo, o caso de um homicídio em que uma pessoa recusou-se a entregar à polícia imagens de uma câmera de segurança, para ajudar nas investigações, mas depois publicou as imagens nas redes sociais. 

Data: 31/03/2023 - 11:00

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