GERAL

Saúde mental atende em média 350 pessoas por mês em Carazinho

Foto Mara Steffens/O Correspondente

 

O Centro de Atenção Psicossocial – CAPS é um espaço dedicado a pessoas com problemas de saúde mental. No local elas recebem atendimento de uma equipe com profissionais de várias áreas para superar suas dificuldades e conviver melhor com outras pessoas. A criação deles passa pelo objetivo de evitar internações hospitalares. Este mês é denominado Janeiro Branco para chamar atenção para este assunto e conscientizar as pessoas quanto a importância de se manter a mente saudável.

A enfermeira Helena Roberta da Silva e a coordenadora do serviço Cristiane Rossi de Oliveira destacam que o CAPS oferece diversas atividades terapêuticas como psicoterapia individual e em grupo, oficinas, atividades comunitárias, artísticas, de orientação e acompanhamento do uso de medicação, atendimento domiciliar e aos familiares, prescrição de remédios. Também estão inclusos no atendimento os dependentes químicos.

Mensalmente são realizadas em média 350 consultas no CAPS II, que desde maio de 2022 passou a funcionar em novo endereço: Rua Silva Jardim, 626, num espaço mais amplo e acolhedor. A unidade carazinhense conta com três psicólogos, enfermeira, técnicos em enfermagem, dois médicos psiquiatras, um clínico geral.

Helena menciona que há algum tempo, os CAPS eram vistos como uma “creche de adultos”. “Eles estão aqui para fazer tratamento. Não lidamos com crianças, com seres humanos, que são portadores de um transtorno mental, seja uma psicose, uma dependência química, ou outro problema relacionado à saúde mental. Este pensamento mudou bastante, mas a reforma psiquiátrica ainda está ‘gatinhando’. Vejo que a sociedade ainda não está preparada. Se tem ainda a ideia de que são pessoas que não podem ser produtivas e que precisam ser escondidas”, conta.

A depressão, doença considerada por muitos especialistas em saúde como “mal do século”, também não é encarada com a seriedade que merece. “Muitos ainda acham que se trata de frescura, que a pessoa depressiva simplesmente não quer trabalhar, quer atestado, ou se ‘encostar’. É um problema sério. Temos a tendência de julgar a vida dos outros, de dizer que se fosse com a gente, faríamos diferente. Na verdade, não temos noção do que o outro passa e fazemos comparações”, observa Cristiane.

Como Carazinho possui a gestão plena em saúde, significa que as unidades básicas de saúde são a porta de entrada dos pacientes para qualquer tratamento na rede pública, inclusive na saúde mental. Helena explica que há necessidade de avaliação do paciente na unidade, se descarte quaisquer outras doenças até que se chegue a conclusão de que ele precisa de apoio no CAPS. “O hipotireoidismo, por exemplo, causa sintomas psicóticos. Para chegar na questão de transtorno mental moderado ou grave é preciso descartar toda questão física primeiro. Depois o diagnóstico passa a ser psiquiátrico. Então o ideal são três intervenções na ESF, com tratamento medicamentoso. Se depois disso não tem resposta a equipe de saúde mental vai até a unidade para discutir o caso”, exemplifica. Há outros casos, de urgência e emergência, chegam à saúde pública através da UPA e do HCC, passam por clínica especializada e depois passam a ser demanda do CAPS II.

Por ter perfil diferenciado, os dependentes químicos tem porta aberta no centro, diferente das outras situações relacionadas à saúde mental, que o recomendado é acessar o serviço pela ESF.

 

Casos recorrentes

Segundo as profissionais, a pandemia fez aumentar as crises de ansiedade. O público mais atingido foram os adultos jovens. A dependência química foi outro fator que aumentou, especialmente em relação ao álcool. “Tivemos muitas recaídas. Tínhamos pacientes estabilizados, especialmente aqueles de longa data que estavam se mantendo. A ansiedade, o isolamento, o medo de perder quem se ama veio à tona. O dependente não sabe lidar com isso. É clássico da patologia e acaba recorrendo à substância”, relata.

Mês de dezembro é a época em que a demanda mais cresce. O fato de as pessoas pararem nesta época para reflexão, analisar o que ocorreu durante o ano pode ser uma explicação. “Se recordam as perdas, resgata tudo que aconteceu e as pessoas ficam mais vulneráveis. Esta alta na procura reflete também no mês de janeiro”, informa Helena, lembrando que velhos conselhos, dados para se ter saúde em geral, também vale para a mente como ter uma alimentação saudável e praticar atividade física.

 

União de esforços

As profissionais ressaltam que especialmente nos casos da dependência química, a sociedade toda precisa se envolver, não apenas os serviços públicos, onde são ofertadas as assistências e tratamentos. “É um contexto complexo. Depois da desintoxicação, quando há o retorno à família, a oferta da droga segue por perto. Às vezes são pessoas com pouca formação, que está em uma família desestruturada. São ‘n’ situações. Cada caso é um caso. Que perspectivas estas pessoas têm? É questão social, de segurança pública até. Não tem como cobrar do usuário se a sociedade não se estruturar de forma diferente”, analisa Helena.

Data: 10/01/2023 - 13:47

Fonte: Mara Steffens

COMPARTILHE