CULTURA

A tradição da solidariedade

Fotos Mara Steffens/O Correspondente e Divulgação

 

A tradição carazinhense no galeto com massa é antiga. Padre João Gheno Netto, na biografia escrita pela jornalista Mara Steffens, narra o episódio em que teve a ideia de incrementar o cardápio oferecido nas festas. “Naquele tempo (nos primeiros anos após sua chegada a Carazinho) fazíamos coletas no interior para fazer comida nas festas. Ganhávamos frangos de vários tamanhos, e como vendíamos assados, os pequenos eram ruins de vender. O pessoal não comprava. Então chegamos a conclusão de que tínhamos que fazer massa, assim como é hoje. Ainda era feito tudo à mão, não havia massa para vender no comércio. Ficava-se vários dias fazendo. Confeccionamos cartões e vendemos meio galeto e uma porção de massa. Tudo começou aqui no salão paroquial. Um dos autores é seu Arcilio Piva, o pai do Fiora (Fioravante Piva). O outro sou eu”, relatou na obra editada em 2020.

O galeto com massa foi adotado pelos carazinhenses. É a forma mais comum de mobilizar a comunidade em torno de uma causa. Quase todo sábado, em algum ponto da cidade, há entrega de porções cujos lucros revertem para vários fins, desde a manutenção de entidades diversas até custear tratamentos médicos. Todo mundo gosta. Quem não consome, adquire cartões só pelo prazer de ajudar.

Doralina Kuchner é voluntária deste tipo de evento há mais de 15 anos. Ajuda a Associação dos Moradores do bairro Alegre e o Clube de Regatas Vasco da Gama. “Eu adoro estar aqui (na produção das massas)”, garantiu. Na edição mais recente, na sede do bairro, no sábado (14) ela ajudou a produzir cerca de 145Kg de massa. Foram assados 450 galetos. Quase todos os cartões foram vendidos.

O trabalho é supervisionado de perto por Maria Vicentina Tolotti. “É muito bom ver as pessoas se engajando com a gente, em prol da comunidade. É só avisar que elas estão aqui”, salientou.

Estreante no voluntariado, Ivânia Cristina da Luz garante estar satisfeita em poder ajudar. “Eu nunca tinha ajudado, mas estou gostando muito”, colocou.

 

Aliando tradição à solidariedade

Patrão do CTG Unidos Pela Tradição RioGrandense, Pedro Américo Messerschmidt é envolvido com a produção do galeto com massa desde a fundação da entidade tradicionalista, em 2001. A ideia de comercializar o prato que já pode ser considerado típico surgiu para angariar recursos para ajudar escolas. Depois a iniciativa foi crescendo. “A ideia foi de Aimoré Correa, já falecido, na intenção de arrecadar fundos para ajudar as escolas a realizarem algumas obras, e também manter o CTG. Ao longo do tempo, os galetos foram dando mais receita. Compramos os ingredientes, fazemos e servimos. A entidade parceira vende os cartões. Depois descontamos as despesas e dividimos o lucro. Já ajudamos escoteiros, escolas, associações e também ações beneficentes”, relatou.

Quase todo fim de semana uma equipe de quase 100 pessoas se mobiliza no CTG. O preparo começa na sexta-feira e leva todo o sábado até que a partir das 18h, os apreciadores buscam seu galeto com massa. Em março e abril já tem programação. Há pessoas destacadas para assar, outras atuam na cozinha preparando o molho e as massas, outras são responsáveis pela entrega. Há ainda aqueles que recebem os cartões. “Uma das poucas coisas que a pandemia nos deixou é que podemos entregar no sistema de drive thru, em que nem é preciso descer do veículo. Além disso, as pessoas não tem mais levado recipientes para acondicionar a comida. Ela já é fornecida embalada”, apontou.

Dispensar do tempo que poderia aproveitar com a família para se dedicar aos eventos não é um fardo para Messerschmidt, pelo contrário, é sinônimo de satisfação. “Sempre rezo a Deus para que siga podendo ajudar a servir ao próximo. Há tantas pessoas precisando. É algo que eu gosto muito de fazer. Me sinto satisfeito”, conclui. 

Em média, conforme o patrão, são vendidos de 800 a 1500 cartões por evento. De acordo com ele, uma maneira de motivar os responsáveis pela comercialização encontrada pelo CTG foi estipular uma meta. Acima de 800 cartões vendidos, 60% da renda fica com a entidade parceira. Se a venda for inferior, a divisão fica em 50% para a entidade e 50% para o CTG.

A partir dos galetos com massa, a entidade tradicionalista conseguiu realizar várias melhorias estruturais. Atualmente 95% da sede é alvenaria. O telhado é formado com a chamada telha sanduíche, que é acústica e diminui o ruído em dia de programação. A cozinha também foi reformada, a churrasqueira adaptada e vários itens foram comprados. 

 

Prazer em ajudar

Airton Krummel é integrante da equipe que auxilia nos eventos do CTG Unidos. “Para mim é muito importante e gratificante. Sempre ajudei na comunidade do bairro Santo Antônio, onde moro e ajudo seguido no CTG. Gosto muito de ajudar. Me sinto bem quando posso contribuir porque sei que estará ajudando alguém que precisa”, informou.

Krummel atua em várias frentes do evento. “Ajudo a limpar os galetos, depois geralmente estou na entrega. Depois da pandemia adotamos o drive thru aí é preciso levar os galetos embalados até a frente do CTG para as pessoas nem precisem descer dos veículos”, contou.

Data: 18/01/2023 - 18:17

Fonte: Mara Steffens

COMPARTILHE