CULTURA

A importância do Alferes Rodrigo para a história de Carazinho

Foto Mara Steffens/O Correspondente

 

A história de Carazinho tem a ver com um vulto histórico importante, mas que nem sempre é lembrado. O Alferes Rodrigo Félix Martins foi um dos responsáveis pela colonização da região em que hoje se encontra o município que completa 92 de emancipação política administrativa.

O historiador, advogado e escritor Adari Francisco Ecker relata dados importantes em seu primeiro livro, “A Trilha dos Pioneiros”, lançado em 2007. A obra tem mais de 500 páginas é bastante rica, trazendo inclusive reprodução de plantas, escrituras de fazendas e inventários dos antepassados.

“Não podemos esquecer do pioneirismo na localidade do distrito de Pinheiro Marcado, na época localidade do lugar que se chamava Jacuhisinho, e o início do povoamento com o Alferes Rodrigo Felix Martins. Ele era descendente de portugueses, veio de Castro-PR. Seu pai, logo que chegou ao Brasil foi funcionário da Câmara de Paranaguá. Em 1750 foi elevado a capitão-mor da Vila de Curitiba”, narra Ecker.

Segundo o historiador, em 1816, o irmão do Alferes, Atanagildo Pinto Martins descobriu durante expedição o caminhado das veredas das missões pelo passo do Pontão. No mesmo ano a família veio para cá, recebendo da coroa portuguesa a sesmaria localizada na região em que hoje está Carazinho e arredores. “A família era muito entrelaçada com os Quadros e os Amaral. As sesmarias equivaliam a pouco mais de 13 mil hectares, uma grande extensão de terra. Era uma forma da coroa incentivar o povoamento. O Alferes chegou em 1816, sua primeira esposa falece, ele retorna a Castro, casa com uma irmã dela, e retorna em definitivo para cá em 1818”, comenta.

A participação na política do Alferes Rodrigo Félix Martins era forte. “Na época, a região pertencia ao município de Cruz alta. Foi candidato a vereador, foi o décimo mais votado, mas não chegou a assumir porque eram sete apenas. O irmão dele, Atanagildo chegou a assumir. Ele já havia sido presidente da Câmara em Castro. Na época do império o poder da Câmara era muito forte, Era ela quem administrava o município”, aponta. “Ele (Alferes Rodrigo) se envolveu na Revolução Farroupilha, foi coletor de impostos. No meu ponto de vista deveria receber mais atenção. É um vulto histórico de uma importância muito grande. Quando fundaram a freguesia de Passo Fundo, ele estava junto. Teve casa, terreno lá e em Cruz Alta. Foi uma pessoa de liderança muito grande”, exalta Ecker.

Além de Alferes Rodrigo Felix Martins, todas as fazendas da região pertenciam a familiares dele. Dois dos genros era proprietários da Pinheiro Marcado, Jacuhyzinho e São Bento: José Antônio de Quadros, Antônio Pereira de Quadros e Bernardo Antônio de Quadros. Da mesma forma os filhos Francisco Leandro Martins, que era dono da Fazenda da Glória, que deu origem ao bairro de mesmo nome. A fazenda do Butiá era de José Fidelis Martins e ficava na região de Não-Me-Toque. Francisco Xavier Martins, também filho do Alferes, era proprietário da extensão que ia até o Rio Jacuí, em Espumoso. Nas imediações de Almirante Tamandaré do Sul, o responsável era um cunhado, Francisco Leandro de Quadros. Em Coqueiros, era um grupo também ligado ao ele. “Depois da Revolução Farroupilha, em função dos muitos gastos por conta do conflito, a Fazenda de Coqueiros foi vencida para um casal que não tinha descendentes. Eles deixaram para um sobrinho que mais tarde vendeu para a família Guerra, proprietária atual de uma extensão naquele município”, ressalta o historiador.

 

A importância da via férrea

Alguns historiados, entre eles Adari Francisco Ecker, defendem que a construção da via férrea teve papel fundamental no crescimento de Carazinho. Neste caso específico, com a exploração da madeira. “Antes mesmo da emancipação éramos muito fortes. A madeira era trazida de vários lugares, Não-Me-Toque, Tapera, Selbach, Victor Graeff. Ao redor dos trilhos eram pilhas e pilhas de madeira. Éramos localidade de Passo Fundo. Fomos emancipar apenas em 1931, mas éramos um distrito muito forte. Outros produtos da região, como a banha produzida em Tapera, além da farinha de mandioca eram trazidos para cá, para serem comercializados. Naquela entrada para o Camping Ribas (na chegada de Não-Me-Toque, perto do bairro São Sebastião) tinham umas casas antigas, com pousada. Os carroceiros posavam ali e no dia seguinte entregavam as mercadorias”, conta.

Também segundo Ecker, há citações de que por volta de 1841, na época da Revolução Farroupilha, o Império mandou confeccionar um mapa para reconhecimento e na área em que hoje é o município haviam pelo menos quatro moradias. “Depois, evidentemente quando criaram a freguesia consta a história da doação de terras para a Igreja. Em 1872 teria sido o episódio em que estenderam o pala no chão para recolher a doação de 18 fazendeiros para a compra”, salienta.

 

Emancipação deveria ter sido antes de Erechim

De acordo com Adari Francisco Ecker, existia em Passo Fundo a liderança destaca do médico Nicolau de Araújo Vergueiro, republicando e com grande simpatia em Erechim. Os votos dos erechinenses eram todos dele. Em Carazinho ele não tinha apoio político.

Erechim é emancipado em 1918 e o povo daqui ficou magoado. Assim, quando do movimento político que desencadeou a Revolução de 1923, que completa centenário neste ano, os carazinhenses aderiram. Ecker está escrevendo um livro sobre este tema. “Para entendermos o que ocorreu ali, é necessário acompanhar desde a Proclamação da República. Foi algo que foi se arrastando por anos e Carazinho então iniciou a revolução. Reuniram os federalistas da época, onde hoje é o CTG Rincão Serrano. Na baixada abriram uma linha de combate. Vieram para a vila e tomaram a subprefeitura, o Cartório Eleitoral, a estação férrea e todos os órgãos administrativos”, ressalta o historiador, ressaltando que o estopim para o conflito foi a eleição de Borges de Medeiros para presidente do Estado, alegado pelos federalistas como feito de maneira ilegal. “Quando ele ia para o quinto mandato, estourou a revolução. Carazinho foi por muito tempo o maior reduto de federalistas do Estado, mas como era apenas uma localidade, diziam que era Passo Fundo. Por causa de Assis Brasil, o líder da revolução, Carazinho foi chamado de Assisópolis durante aquele período”, coloca.

 

Promessa de Getúlio Vargas e Flores da Cunha

Ecker conta ainda que em 1928, Getúlio Vargas então presidente do Estado desejava ser presidente da República. A família da mãe era maragata e do pai, republicana. Por isso, agia com muita diplomacia. “Quando passou por Carazinho, parou na Estação Férrea para descansar, se alimentar e pegar mantimentos. Foi feito um ato público no então Hotel Liberal. Quem falou em nome de Carazinho foi Guilherme Schultz Filho, então com 19 anos. A comunidade cobrou a emancipação e ele disse que se ele chegasse a presidente, seu interventor seria Flores da Cunha. Este, por sua vez, disse que tornaria Carazinho município, mas com a condição de que o primeiro prefeito fosse Homero Guerra, com quem tinha um parentesco. Então em 1931, na Praça, houve um ato para que Homero assumisse o município”, resume.

Data: 24/01/2023 - 10:45

Fonte: Mara Steffens

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