POLÍCIA

Em pouco mais de três anos, Patrulha Maria da Penha cadastrou 441 vítimas de violência doméstica em Carazinho

Foto Divulgação/BM

 

Implementada em abril de 2020, a Patrulha Maria da Penha se consolida em Carazinho como importante ferramenta de proteção à mulher contra a violência doméstica. O Major Juliano Moura, comandante do 38 BPM, menciona que desde que a guarnição atua não houve feminicídios. Em alguns casos o Poder Judiciário do descumprimento das medidas por parte do agressor, mas todas as mulheres acompanhadas não sofreram fatos mais graves. “É um trabalho de acompanhamento assistencial, com as situações mais graves sendo acompanhadas mais seguidamente e inclusive com o encaminhamento a outros órgãos de situações que constatamos”, menciona o oficial, referindo-se ao acionamento da rede assistencial do município quando observada falta de alimentos, por exemplo.

 

Os policiais que atuam na Maria da Penha também desempenham outro projeto social da corporação, o Proerd, que atua em escolas e tem por objetivo combater a violência e o uso de drogas. “Temos certeza de que são iniciativas que tem uma confiabilidade muito grande da comunidade”, constata o comandante.

 

Conforme o Major Moura, na grande maioria dos casos, os agressores obedecem às determinações judiciais, e existem casos em que ocorre conciliação e o indivíduo volta para o lar. Mesmo assim, as mulheres são orientadas a manterem acompanhamento psicológico. Quando isso ocorre, a Brigada Militar emite uma certidão e as visitas não são mais realizadas.

 

Desde o dia 18 de abril de 2020, data em que a Patrulha Maria da Penha começou a atuar em Carazinho, até o fim do mês de agosto, foram cadastradas 441 vítimas e realizados 817 procedimentos em relação a elas. Major Moura acredita ser um número considerável e alerta que ele não revela o universo da violência doméstica em Carazinho pois se refere apenas aos casos que chegam ao Poder Judiciário para os quais são designadas medidas protetivas. Podem existir muitos casos em que a mulher sofre violência, mas não procura auxílio, ou até registra ocorrência e depois desiste de dar seguimento ao processo.

                                                                      

O depoimento de quem acompanha os casos de perto

A Soldado Scheffler é uma das policiais que atua na Patrulha Maria da Penha. Ela conta que as visitas ocorrem entre duas e três vezes por semana, dependendo da disponibilidade dos brigadianos. Em alguns períodos, como durante o Agosto Lilás, são realizados eventos preventivos, como palestras em escolas, afinal de contas, é preciso conscientizar crianças e adolescentes acerca do problema a fim de evitar que os casos aumentem. “Precisamos disseminar conhecimentos, informar as pessoas para que elas também sejam multiplicadoras destas informações nas suas comunidades”, menciona.

 

Sobre os casos acompanhados em Carazinho, a militar destaca que são praticamente todos os tipos de violência. “Só não tivemos feminicídio, mas lesão corporal, violência moral, calúnia, injúria, difamação, ameaça... Quando a mulher solicita medida protetiva a situação acalma, mas ao mesmo tempo há casos de descumprimento, não no extremo, mas ela segue sendo perseguida, ele vai até o local de trabalho dela, até a frente da casa, tenta manter contato e isso também é violência”, esclarece ela, ressaltando que tentar contar a vítima pelas redes sociais, também é violar a medida protetiva.

 

A Soldado Scheffler menciona ainda, que na maioria dos casos há problemas jurídicos envolvidos e que precisam ser sanados. “Esta mulher geralmente vai precisar ser assistida no CRAS, no CREAS, pelo Desenvolvimento Social, pela Defensoria Pública. Geralmente ocorre um divórcio, então tem partilha de bens, guarda dos filhos, pensão, e isso sempre gera atrito, é motivo de brigas, de ameaça. Então a gente faz o encaminhamento para a resolução destas questões”, explica.

 

Ainda conforme ela, em um mesmo caso há mais de um tipo de violência. “No geral, temos casos desde o mais leve até o mais grave, da física a patrimonial. As violências vêm combinadas, com mais de um tipo na mesma ocorrência, mas todas começam pela psicológica e muitas vezes, as vítimas esperam chegar a violência física para tomar uma atitude”, afirma.

 

Enquanto mulher e atuando na Patrulha Maria da Penha, a Soldado Scheffler constata que muitas delas não foram ensinadas que o amor não é uma linguagem violenta. “Muitas acham que isso é normal. É uma falha lá do começo, da cultura que se aprende. Se tivéssemos começado esta conscientização antes, talvez não tivéssemos tantos casos agora. Crime contra a vida é algo absurdo em uma sociedade equilibra. Deveríamos poder resolver nossos problemas conversando e não brigando, especialmente nos relacionamentos afetivos. Existe uma dependência psicológica muito grande. A agressão não vem de um estranho, mas de alguém que ela ama. É difícil quebrar isso e a mulher ainda é julgada por não conseguir dar um basta. É preciso ter mais empatia”, conclui.

Data: 22/09/2023 - 08:34

Fonte: Mara Steffens

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